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clamor teria bastado para abrir à força o longo zíper de sua mortalha de<br />

náilon, estivesse ela morta. Lolita! No meio da grama aparada de um<br />

terraço encontrei-a afinal — deixara o quarto às pressas, antes que eu<br />

estivesse pronto. Oh Lolita! E lá estava ela brincando com um maldito<br />

cachorro, e não comigo. O animal, uma espécie de terrier, soltava e<br />

tornava a abocanhar, ajustando em seguida entre suas mandíbulas, uma<br />

bolinha vermelha; raspava agitado a grama resistente com as patas<br />

dianteiras, e em seguida saltava para trás. Eu só queria saber onde ela<br />

estava, pois não conseguiria nadar com meu coração naquele estado,<br />

mas quem se importava comigo — e lá estava ela, e lá estava eu, com<br />

meu roupão —, e então parei de chamar; mas de repente alguma coisa<br />

no padrão dos movimentos dela, enquanto saltitava de um lado para<br />

outro em seu maiô de duas peças vermelho-asteca, despertou em mim...<br />

havia um êxtase, uma loucura em sua agitação que era alegre demais.<br />

Até o cão parecia intrigado com a exuberância das suas reações. Apoiei a<br />

mão mansa no peito enquanto me inteirava da situação. A piscina azulturquesa,<br />

a uma certa distância do gramado, não estava mais do outro<br />

lado do gramado mas dentro do meu tórax, e meus órgãos nadavam nela<br />

como excrementos na água azul do mar de Nice. Um dos banhistas saíra<br />

da piscina e, semioculto pela sombra empavoada das árvores, estava<br />

parado, segurando as extremidades da toalha em torno dos ombros e<br />

seguindo Lolita com seus olhos de âmbar. Lá estava ele, na camuflagem<br />

de sol e sombra, desfigurado pelos dois e mascarado por sua própria<br />

nudez, seus cabelos negros ou o que deles restara colados à cabeça<br />

redonda, o bigodinho uma pincelada úmida, a pelagem de seu peito<br />

espalhada como um troféu simétrico, seu umbigo latejante, suas coxas<br />

hirsutas a pingar gotas cintilantes, seu calção de banho preto e justo<br />

estufado e explodindo de vigor onde seu gordo saquitel fora repuxado<br />

para cima e para trás, formando um escudo acolchoado a cobrir sua<br />

animalidade virada para o alto. E enquanto eu contemplava aquele rosto<br />

oval e castanho cor de noz, entendi num relance o que me fazia<br />

reconhecê-lo: era o reflexo da expressão da minha filha — a mesma<br />

beatitude e o mesmo esgar sorridente, só que horrendamente<br />

deformados por seus traços masculinos. E percebi também que a<br />

criança, a minha menina, sabia que ele a estava assistindo, degustava a<br />

luxúria daquele olhar e procurava proporcionar-lhe um espetáculo de<br />

cabriolas e alegria, a vadia perversa e adorada. Cada vez que estendia a<br />

mão para a bola e não conseguia pegá-la, caía de costas, com suas<br />

obscenas pernas jovens pedalando loucamente no ar; o almíscar de sua<br />

excitação era perceptível de onde eu me encontrava, e então vi<br />

(petrificado com uma espécie de nojo santo) o homem fechar os olhos e<br />

exibir seus dentes miúdos, horrivelmente miúdos e regulares,<br />

encostando-se a uma árvore em que estremecia uma míriade de Príapos

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