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todo este caso sórdido” não venham atingir a comunidade à qual se<br />

orgulha de pertencer. Sua filha, “Louise”, cursa hoje o segundo ano da<br />

universidade. “Mona Dahl” estuda em Paris. “Rita” casou-se<br />

recentemente com o proprietário de um hotel na Flórida. A sra. “Richard<br />

F. Schiller” morreu no parto, dando à luz uma menina natimorta, no dia<br />

de Natal de 1952, em Gray Star, localidade do extremo noroeste dos<br />

EUA. “Vivian Darkbloom” é a autora de uma biografia, Minha deixa, a ser<br />

publicada em breve, e os críticos que folhearam os originais<br />

classificaram-na como o melhor dos seus livros. Os coveiros empregados<br />

nos vários cemitérios mencionados afirmam que nenhum fantasma<br />

caminha entre suas tumbas.<br />

Visto como um simples romance, Lolita trata de situações e emoções<br />

que teriam ficado exasperantemente vagas para o leitor se a sua<br />

expressão tivesse sido estiolada pelo recurso a evasões mais banais. É<br />

bem verdade que nenhum termo obsceno pode ser encontrado em toda<br />

a obra; de fato, o filisteu renitente, condicionado pelas convenções<br />

modernas a aceitar sem queixas um farto leque de palavrões em<br />

qualquer romance vulgar, ficará chocado ante sua completa ausência<br />

neste livro. Se, entretanto, para o conforto desse puritano paradoxal,<br />

algum editor tentasse diluir ou omitir as cenas que um certo tipo de<br />

espírito pode qualificar de “afrodisíacas” (ver a esse respeito a<br />

monumental decisão emitida em 6 de dezembro de 1933 pelo<br />

meritíssimo John M. Woolsey, com referência a outro livro, bem mais<br />

explícito), seria necessário desistir totalmente da publicação de Lolita,<br />

pois justamente essas cenas, que se poderiam acusar indevidamente de<br />

uma existência sensual independente, são as mais estritamente<br />

funcionais para o desenrolar de uma história trágica que tende<br />

inarredavelmente para nada menos que uma apoteose moral. O cínico<br />

poderá dizer que a pornografia comercial alega o mesmo em sua defesa;<br />

o erudito poderá retrucar afirmando que a confissão apaixonada de “H.<br />

H.” não passa de uma tempestade num tubo de ensaio; que pelo menos<br />

12% dos adultos americanos do sexo masculino — numa estimativa<br />

“conservadora”, segundo a dra. Blanche Schwarzmann (comunicação<br />

verbal) — se entregam anualmente, de um modo ou de outro, à mesma<br />

experiência peculiar que “H. H.” descreve com tamanho desespero; que<br />

caso nosso demente diarista tivesse procurado, naquele fatal verão de<br />

1947, um psicopatologista competente, a calamidade não teria ocorrido;<br />

nessa hipótese, porém, tampouco existiria o presente livro.<br />

Este comentarista deve ser desculpado por repetir o que sempre<br />

enfatizou em seus próprios livros e conferências, a saber, que “ofensivo”<br />

quase nunca é mais que um sinônimo para “incomum”; e que uma<br />

grande obra de arte é, obviamente, sempre original e, assim, por sua<br />

própria natureza, só pode ser recebida como uma surpresa mais ou

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