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“Não. Pode falar.”<br />

“Pare numa rua sossegada que eu conto.”<br />

“Lo, vou pedir seriamente que você não se faça de boba. E então?”<br />

“Bem — participei de todas as atividades que ofereciam.”<br />

“Ensuite?”<br />

“Ansuilte, aprendi a ter um convívio rico e feliz com as outras e a<br />

desenvolver uma personalidade saudável. A ser uma besta, na verdade.”<br />

“Bem. Eu vi alguma coisa desse tipo no folheto.”<br />

“Adorávamos cantar em volta do fogo na grande lareira de pedra, ou<br />

debaixo das estrelas de bosta, onde cada menina mesclava seu espírito<br />

de felicidade à voz de todo o grupo.”<br />

“Você tem uma memória excelente, Lo, mas preciso lembrar que<br />

deixe os palavrões de fora. Mais alguma coisa?”<br />

“O lema das bandeirantes”, disse Lo em tom de rapsódia, “é o meu.<br />

Juro preencher minha vida com gestos de valor como — bem, não faz<br />

diferença. Meu dever é — ser útil. Sou amiga dos animais machos.<br />

Obedeço a ordens. Sou alegre. Outro carro de polícia. Sou econômica e<br />

absolutamente imunda nos meus pensamentos, palavras e atos”.<br />

“Espero que seja só isso, minha menina espirituosa.”<br />

“É. Só isso. Não — espere um instante. Assamos bolos num forno<br />

refletor. Não é uma beleza?”<br />

“Já melhorou.”<br />

“E lavamos zilhões de pratos. ‘Zilhões’, se você não sabe, é a gíria<br />

escolar para muitos e muitos e muitos e muitos. Ah, sim, e antes de<br />

terminar, como diz minha mãe — Deixe eu ver — o que foi mesmo? Já<br />

sei. Fizemos desenhos de silhuetas. Como foi divertido.”<br />

“C’est bien tout?”<br />

“C’est. Só mais uma coisinha, uma coisa que eu não tenho como lhe<br />

contar sem ficar toda vermelha.”<br />

“Mais tarde você me conta?”<br />

“Se estivermos no escuro e você deixar eu falar bem baixinho, eu<br />

conto. Você está dormindo no seu antigo quarto ou embolado com a<br />

minha mãe?”<br />

“Antigo quarto. Sua mãe pode ter de sofrer uma operação muito<br />

séria, Lo.”<br />

“Pare naquela loja de doces, está bem?”, pediu Lo.<br />

Sentada num banco alto, uma faixa de luz do sol atravessando seu<br />

antebraço descoberto e bronzeado, Lolita pediu uma extraordinária<br />

combinação de sorvetes coberta de calda sintética. Que foi preparada e<br />

trazida a ela por um jovem brutamontes coberto de espinhas e de<br />

gravata-borboleta sebenta que examinou minha frágil criança em seu<br />

vestidinho leve de algodão com uma vagarosa deliberação carnal. Minha<br />

impaciência de chegar logo a Briceland e aos Caçadores Encantados

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