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de menino.<br />

Mas eu sabia que aquilo jamais daria em nada, e adoecia de desejo, e<br />

minhas roupas me pareciam miseravelmente apertadas, e fiquei quase<br />

grato quando a voz baixa da mãe dela anunciou no escuro: “E agora<br />

todos achamos que está na hora de Lo ir para a cama.” “E eu acho você<br />

nojenta”, respondeu Lo. “O que significa que o piquenique de amanhã<br />

está cancelado”, disse Haze. “Este é um país livre”, disse Lo. Quando Lo<br />

furiosa foi embora, pondo a língua para fora e produzindo um ruído<br />

obsceno com os lábios pressionados, continuei lá por pura inércia,<br />

enquanto Haze fumava seu décimo cigarro da noite e queixava-se da<br />

filha.<br />

Ela já era maldosa, veja o senhor, desde a idade de um ano, quando<br />

costumava jogar os brinquedos para fora do berço só para obrigar a<br />

pobre mãe a catá-los, bebê diabólico! Agora, aos doze anos, comportavase<br />

sistematicamente mal, disse Haze. Tudo o que queria da vida era um<br />

dia tornar-se baliza, girando seu bastão à frente da banda aos saltos e<br />

piruetas, ou passar as noites dançando swing. Tirava notas baixas, mas<br />

estava mais bem ajustada à escola nova que à de Pisky (Pisky era a<br />

cidade natal de Haze no Meio-Oeste. A casa de Ramsdale pertencera à<br />

sua falecida sogra. E as duas tinham-se mudado para Ramsdale havia<br />

menos de dois anos). “Por que ela não gostava de lá?” “Ah”, respondeu<br />

Haze, “eu até devia saber, pobre de mim, porque também passei por isso<br />

quando era menina: os meninos torcendo seu braço, dando-lhe<br />

encontrões com pilhas de livros, puxando o seu cabelo, esbarrando com<br />

força nos seus seios, levantando a sua saia. Claro que mudanças de<br />

humor costumam acompanhar o crescimento, mas Lo passa da conta.<br />

Emburrada e evasiva. Grosseira e desafiadora. Espetou Viola, uma colega<br />

italiana, nas nádegas com uma caneta-tinteiro. Sabe do que eu gostaria?<br />

Se o senhor, monsieur, por acaso ainda estivesse aqui no outono, eu lhe<br />

pediria para ajudar com os deveres de casa dela — o senhor parece saber<br />

tudo, geografia, matemática, francês”. “Ah, tudo”, respondeu monsieur.<br />

“Quer dizer”, acrescentou rapidamente Haze, “que o senhor vai estar<br />

aqui!”. Pensei em exclamar que ficaria para sempre se pelo menos<br />

pudesse ter a esperança de acariciar de vez em quando minha pupila<br />

incipiente. Mas Haze me inspirava cautela. De maneira que me limitei a<br />

resmungar e esticar braços e pernas de maneira desconcomitante (le<br />

mot juste), e em seguida retirei-me para o meu quarto. Ficou óbvio,<br />

entretanto, que a mulher ainda não estava pronta a encerrar as<br />

atividades do dia. Eu já estava deitado em minha cama fria com as duas<br />

mãos pressionando contra o rosto o fantasma fragrante de Lolita quando<br />

ouvi minha infatigável hospedeira aproximar-se sorrateira da minha<br />

porta e sussurrar através dela — só para saber, perguntou, se eu já<br />

acabara de ler a revista Glance and Gulp que eu pegara emprestada

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