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Wills, que acabara de conquistar o Campeonato Nacional Juvenil<br />
Feminino de Simples aos quinze anos de idade. Enquanto eu<br />
cambaleava até a porta do quarto particular com diária de trinta dólares<br />
da minha filha, Mary Lore, a bestial enfermeira de meio expediente que<br />
cultivara uma antipatia declarada por mim, emergiu trazendo a bandeja<br />
com os pratos vazios do desjejum, que pousou com estrépito numa<br />
cadeira do corredor e, com os fundilhos em furioso movimento, voltou<br />
disparada para o quarto — provavelmente para avisar sua pobre<br />
pequena Dolores que o velho tirano se aproximava pisando em solas de<br />
crepe, munido de livros e buquê: este último composto de flores<br />
silvestres e lindas folhas, colhidas com minhas próprias mãos enluvadas<br />
num desfiladeiro da montanha ao amanhecer (mal consegui dormir toda<br />
aquela fatídica semana).<br />
Alimentavam bem minha Carmencita? Passei os olhos casualmente<br />
pela bandeja. Numa travessa manchada de gema havia um envelope<br />
amassado. Contivera alguma coisa, pois uma de suas bordas estava<br />
rasgada, mas não trazia endereço algum — absolutamente nada, salvo<br />
um suposto brasão de armas com o nome “Ponderosa Lodge” em letras<br />
verdes; depois disso, executei um chassé-croisé com Mary, que saía<br />
novamente — impressionante como se deslocam depressa e como fazem<br />
pouca coisa, essas jovens enfermeiras cadeirudas. E contemplou com os<br />
olhos em brasa o envelope que eu pusera de volta no prato, sem<br />
amassar.<br />
“Melhor não pegar isto”, disse ela, gesticulando direcionalmente com<br />
a cabeça. “Pode queimar sua mão.”<br />
Abaixo da minha dignidade retrucar. Tudo que eu disse foi:<br />
“Je croyais que c’était a conta do hospital — e não um bilhete<br />
amoroso.” E em seguida, entrando no quarto ensolarado, a Lolita:<br />
“Bonjour, mon petit.”<br />
“Dolores”, disse Mary Lore, entrando junto comigo, à minha frente,<br />
através de mim, a marafona gorda, piscando muito os olhos, e<br />
começando a dobrar depressa um cobertor branco de flanela enquanto<br />
piscava: “Dolores, seu pai acha que são para você as cartas do meu<br />
namorado. Para mim [batendo de leve com a ponta do dedo no pequeno<br />
crucifixo de ouro que trazia ao pescoço] é que elas são. E o meu pai sabe<br />
parlê-vu igual ao seu.”<br />
E deixou o quarto. Dolores, tão corada e sardenta, os lábios recémpintados,<br />
o cabelo lustroso da escova, os braços nus apoiados na coberta<br />
bem dobrada, permaneceu inocentemente recostada, olhando em<br />
triunfo para mim ou coisa alguma. Na mesa de cabeceira, ao lado de um<br />
guardanapo de papel e de um lápis, seu anel de topázio ardia ao sol.<br />
“Que flores tristes de funeral”, disse ela. “Obrigada assim mesmo.<br />
Mas você se incomoda muito de cortar o francês? Todo mundo se