14.05.2015 Views

o_19l9sf1klot912ii1tl61iufs6da.pdf

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Mas não se trata disso”, disse a sempre lógica prezada condenada.<br />

“Ele não chega a ser propriamente normal, você entende. E”, prosseguiu<br />

ela (naquele seu cauteloso modo muito articulado que já começava a<br />

afetar minha saúde), “tenho uma impressão muito clara de que a nossa<br />

Louise está apaixonada pelo cretino”.<br />

Impressão. “Temos a impressão de que Dolly não está indo muito<br />

bem” etc. (de um antigo boletim escolar).<br />

O casal Humbert seguiu adiante, de sandália e roupão.<br />

“Sabe de uma coisa, Hum: tenho um sonho muito ambicioso”,<br />

pronunciou Lady Hum, baixando a cabeça — acanhada por ter aquele<br />

sonho — e comungando com a terra escura do chão. “Eu adoraria<br />

conseguir uma verdadeira criada bem treinada, como aquela moça<br />

alemã de que os Talbot falaram; e que ela morasse em casa.”<br />

“Falta espaço”, respondi.<br />

“Ora”, disse ela com seu sorriso enigmático, “certamente, chéri, você<br />

subestima as possibilidades do lar da família Humbert. Ela podia ficar no<br />

quarto de Lo. De qualquer maneira, eu estava pensando em transformar<br />

aquele buraco num quarto de hóspedes. É o aposento mais frio e<br />

desconfortável de toda a casa”.<br />

“Mas do que você está falando?”, perguntei, tensionando a pele dos<br />

malares (e isto só me dou o trabalho de assinalar porque a pele da<br />

minha filha fazia igual quando ela se sentia do mesmo jeito:<br />

incredulidade, dissimulação, irritação).<br />

“São as Associações Românticas que incomodam?”, perguntou<br />

minha esposa — aludindo à sua primeira entrega.<br />

“De maneira alguma”, disse eu. “Só me pergunto onde você<br />

pretende enfiar sua filha quando for receber um hóspede ou a sua<br />

criada.”<br />

“Ah”, declarou sonhadora a sra. Humbert, sorrindo, pronunciando o<br />

“Ah” ao mesmo tempo que erguia uma das sobrancelhas e deixava<br />

escapar uma suave exalação. “A pequena Lo, veja bem, não entra no<br />

quadro de todo, de maneira alguma. A pequena Lo vai diretamente da<br />

colônia de férias para um bom internato com uma disciplina rígida e<br />

uma boa formação religiosa. E em seguida — Beardsley College. Já<br />

planejei tudo, você não tem com que se preocupar.”<br />

E prosseguiu dizendo que ela, a sra. Humbert, precisaria superar sua<br />

preguiça habitual e escrever para a irmã da srta. Phalen, que ensinava<br />

na escola de St. Algebra. O lago ofuscante emergiu. Aleguei que tinha<br />

esquecido meus óculos escuros no carro e que depois a alcançaria.<br />

Eu sempre achara que torcer as mãos fosse um gesto fictício —<br />

derivação obscura, talvez, de algum ritual da Idade Média; mas, quando<br />

enveredei pelo bosque, para alguns minutos de desespero e meditação<br />

furiosa, esse gesto (“contemplai, Senhor, estas correntes!”) era o que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!