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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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de insolência e inqüidade...”.<br />

Não nomeamos bois para ser os senhores dos bois, n<strong>em</strong> bodes para ser os<br />

senhores dos bodes, mas somos nós próprios, uma raça superior, que os<br />

governamos. De maneira s<strong>em</strong>elhante, Deus, por amor à humanidade,<br />

colocou acima de nós os d<strong>em</strong>ônios, que são uma raça superior, e eles, de<br />

forma fácil e prazerosa para si mesmos, e não menos prazerosa para nós,<br />

tornam as tribos dos homens mais felizes e unidas, ao cuidar de nós e nos<br />

dar paz, reverência, ord<strong>em</strong> e justiça que nunca falham.<br />

Ele negava firm<strong>em</strong>ente que os d<strong>em</strong>ônios foss<strong>em</strong> uma fonte do mal, e<br />

não representava Eros, o guardião das paixões sensuais, como um deus, mas<br />

como um d<strong>em</strong>ônio, “n<strong>em</strong> mortal, n<strong>em</strong> imortal”, “n<strong>em</strong> bom, n<strong>em</strong> mau”. Mas<br />

todos os platônicos posteriores, inclusive os neoplatônicos que influenciaram<br />

poderosamente a filosofia cristã, sustentavam que alguns d<strong>em</strong>ônios eram<br />

bons e outros maus. O pêndulo balançava. Aristóteles, o famoso discípulo de<br />

Platão, considerava com seriedade a afirmação de que o roteiro dos sonhos é<br />

escrito <strong>pelos</strong> d<strong>em</strong>ônios. Plutarco e Porfírio afirmaram que os d<strong>em</strong>ônios, que<br />

preenchiam o ar superior, vinham da Lua.<br />

Apesar de impregnados pelo neoplatonismo da cultura <strong>em</strong> que<br />

estavam imersos, os primeiros padres da Igreja ansiavam por se separar dos<br />

sist<strong>em</strong>as de crença “pagãos”. Ensinavam que a essência da religião pagã<br />

consistia no culto de d<strong>em</strong>ônios e homens, ambos interpretados erradamente<br />

como deuses. Quando São Paulo se queixou (Efésios 6:14) da maldade <strong>em</strong><br />

lugares celestiais, não estava se referindo à corrupção do governo, mas aos<br />

d<strong>em</strong>ônios, que viviam naqueles locais:<br />

Pois não t<strong>em</strong>os que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os<br />

principados, contra as potestades, contra príncipes das trevas desse século,<br />

contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.<br />

Desde o início, os d<strong>em</strong>ônios significavam muito mais do que uma<br />

simples metáfora poética para o mal no coração dos homens.<br />

Santo Agostinho ficava exasperado com os d<strong>em</strong>ônios. Ele cita o<br />

pensamento pagão prevalecente na sua época: “Os deuses ocupam as regiões<br />

mais elevadas, os homens as mais baixas, os d<strong>em</strong>ônios a região<br />

intermediária... Eles têm a imortalidade do corpo, mas as paixões da mente<br />

<strong>em</strong> comum com os homens”. No livro VII de A Cidade de Deus (iniciado <strong>em</strong><br />

413), Agostinho assimila essa antiga tradição, substitui os deuses por Deus, e<br />

converte os d<strong>em</strong>ônios <strong>em</strong> diabos – afirmando que eles são, s<strong>em</strong> exceção,<br />

malignos. Não t<strong>em</strong> virtudes redentoras. São a fonte de todo o mal espiritual e<br />

material. Ele os chama de “animais aéreos [...] muito ansiosos por infligir<br />

dano, totalmente opostos à retidão, inchados de orgulho, pálidos de inveja,

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