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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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sutis no engano”. Pod<strong>em</strong> se declarar mensageiros entre Deus e os homens,<br />

disfarçando-se como anjos do Senhor, mas essa sua atitude é uma armadilha<br />

que nos leva à destruição. Pod<strong>em</strong> assumir qualquer forma, e sab<strong>em</strong> muitas<br />

coisas – “d<strong>em</strong>ônio” significa “conhecimento” <strong>em</strong> grego * –, especialmente<br />

sobre o <strong>mundo</strong> material. Por mais inteligentes que sejam, não têm caridade.<br />

Atacam “as mentes cativas e ludibriadas dos homens”, escreveu Tertuliano.<br />

“Eles têm a sua moradia no ar, as estrelas são os seus vizinhos, e as suas<br />

relações são com as nuvens.”<br />

No século XI, o influente teólogo, filósofo e político bizantino de<br />

reputação duvidosa, Miguel Psellos, descreveu os d<strong>em</strong>ônios com as seguintes<br />

palavras:<br />

Esses animais exist<strong>em</strong> <strong>em</strong> nossa própria vida, que é repleta de paixões,<br />

pois sua presença é abundante nas paixões, e o lugar que habitam é o da<br />

matéria, como também a ela pertenc<strong>em</strong> a sua categoria e classe. Por essa<br />

razão, também estão sujeitos a paixões a elas acorrentados.<br />

Um certo Richalmus, abade de Schönthal, escreveu ao redor de 1270<br />

um tratado completo sobre d<strong>em</strong>ônios, rico <strong>em</strong> experiências diretas: ele vê<br />

(mas somente de olhos fechados) inúmeros d<strong>em</strong>ônios malévolos, como grãos<br />

de poeira, zunindo ao redor de sua cabeça – e da cabeça de todos os d<strong>em</strong>ais.<br />

Apesar de ondas sucessivas de visões de <strong>mundo</strong> racionalistas, persas,<br />

judaicas, cristãs e muçulmanas, apesar do fermento social, político e filosófico<br />

revolucionário, a existência, grande parte do caráter e até o nome dos<br />

d<strong>em</strong>ônios permaneceram inalterados de Hesíodo até as Cruzadas.<br />

Os d<strong>em</strong>ônios, os “poderes do ar”, desc<strong>em</strong> do céu e têm relações<br />

sexuais ilícitas com as mulheres. Agostinho acreditava que as bruxas eram o<br />

produto dessas uniões proibidas. Na Idade Média, assim como na<br />

Antigüidade clássica, quase todo <strong>mundo</strong> acreditava nessas histórias. Os<br />

d<strong>em</strong>ônios eram também chamados diabos ou anjos caídos. Os sedutores<br />

d<strong>em</strong>oníacos das mulheres eram denominados íncubos; os dos homens,<br />

súcubos. Há casos <strong>em</strong> que as freiras falavam, com algum atordoamento, de<br />

uma s<strong>em</strong>elhança extraordinária entre o íncubo e o padre confessor ou o<br />

bispo, e despertavam na manhã seguinte, segundo um cronista do século XV,<br />

“descobrindo-se sujas como se tivess<strong>em</strong> estado com um hom<strong>em</strong>”. Há relatos<br />

s<strong>em</strong>elhantes na China antiga, só que <strong>em</strong> haréns, e não <strong>em</strong> conventos. São<br />

tantas as mulheres que relataram casos com íncubos, argumentava o escritor<br />

religioso presbiteriano Richard Baxter (<strong>em</strong> seu livro Century of the world of<br />

spirits, 1691), “que é impudência negá-los“. *<br />

(*) “Ciência” significa “conhecimento” <strong>em</strong> latim. Uma disputa de jurisdição fica<br />

sugerida, mesmo que não se aprofunde o exame da questão.<br />

(*) Além disso, na mesma obra: “A produção de t<strong>em</strong>pestades pelas bruxas é

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