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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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vizinha de Vancouver, no Canadá; os assassinatos com armas portáteis são<br />

cinco vezes mais comuns <strong>em</strong> Seattle, e a taxa de suicídio com armas portáteis<br />

é dez vezes maior <strong>em</strong> Seattle. As armas facilitam o homicídio impulsivo. Isso<br />

também é um experimento. Em quase todos esses casos, não se faz<strong>em</strong><br />

experimentos de controle adequados, n<strong>em</strong> as variáveis são suficient<strong>em</strong>ente<br />

isoladas. Ainda assim, até certo grau, com freqüência útil, as idéias políticas<br />

pod<strong>em</strong> ser testadas. O grande desperdício seria ignorar os resultados dos<br />

experimentos sociais por parecer<strong>em</strong> ideologicamente intragáveis.<br />

Não existe atualmente nenhuma nação na Terra <strong>em</strong> condições<br />

ótimas para a metade do século XXI. Enfrentamos uma abundância de<br />

probl<strong>em</strong>as sutis e complexos. Portanto, precisamos de soluções sutis e<br />

complexas. Como não existe teoria dedutiva da organização social, o nosso<br />

único recurso é o experimento científico – tentando às vezes <strong>em</strong> pequenas<br />

escalas (por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> nível da comunidade, cidade e estado) uma ampla<br />

gama de alternativas. Quando alguém se tornava primeiro-ministro na China<br />

no século V a.C., uma das prerrogativas do poder era que ele começava a<br />

construir um estado-modelo <strong>em</strong> seu distrito ou província natal. O grande<br />

fracasso de sua vida, lamentava Confúcio, foi nunca ter chegado a desfrutar<br />

dessa experiência.<br />

Até um exame casual da história revela que nós, humanos, t<strong>em</strong>os<br />

uma tendência triste de cometer os mesmos erros mais de uma vez. T<strong>em</strong>os<br />

medo de estranhos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de<br />

nós. Quando ficamos com medo, começamos a maltratar as pessoas. T<strong>em</strong>os<br />

botões de fácil acesso que liberam <strong>em</strong>oções poderosas ao ser<strong>em</strong> apertados.<br />

Manipulados por políticos inteligentes, pod<strong>em</strong>os chegar até o mais alto grau<br />

de irracionalidade. Dê<strong>em</strong>-nos o tipo certo de líder e, como os pacientes mais<br />

sugestionáveis dos hipnoterapeutas, far<strong>em</strong>os alegr<strong>em</strong>ente quase tudo o que<br />

ele quiser – mesmo coisas que sab<strong>em</strong>os estar<strong>em</strong> erradas. Os idealizadores da<br />

Constituição eram estudiosos de história. Por reconhecer a condição humana,<br />

procuraram inventar um meio de nos manter livres a despeito de nós<br />

mesmos.<br />

Alguns dos opositores da Constituição dos Estados Unidos insistiam<br />

que ela nunca funcionaria; que era impossível uma forma republicana de<br />

governo que abarcasse um país com “tantos climas, economias, morais,<br />

políticas e povos diferentes”, como dizia o governador George Clinton, de<br />

Nova York; que esse governo e essa Constituição, como declarava Patrick<br />

Henry, da Virgínia, “contradiz toda a experiência do <strong>mundo</strong>”. Mesmo assim,<br />

o experimento foi tentado.<br />

As descobertas e as atitudes científicas eram comuns naqueles que<br />

inventaram os Estados Unidos. A autoridade supr<strong>em</strong>a, superior a qualquer<br />

opinião pessoal, a qualquer livro, a qualquer revelação, eram – como diz a

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