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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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visivelmente interessante. O ano escolar acabava s<strong>em</strong>pre antes de chegarmos<br />

até aquele ponto. Podiam-se encontrar livros maravilhosos sobre astronomia<br />

nas bibliotecas, por ex<strong>em</strong>plo, mas não na sala de aula. A divisão<br />

pormenorizada era ensinada como uma receita culinária, s<strong>em</strong> nenhuma<br />

explicação sobre como essa seqüência específica de pequenas divisões,<br />

multiplicações e subtrações conseguia conduzir à resposta certa. Na escola<br />

secundária, a extração da raiz quadrada era dada com reverência, como se<br />

fosse um método entregue outrora no monte Sinai. A nossa tarefa era<br />

simplesmente l<strong>em</strong>brar os mandamentos. Obtenha a resposta correta, e<br />

esqueça se você não compreende o que está fazendo. Tive um professor de<br />

álgebra muito competente, no segundo ano, com qu<strong>em</strong> aprendi muita<br />

mat<strong>em</strong>ática; mas ele era também um valentão que gostava de fazer as<br />

meninas chorar<strong>em</strong>. Meu interesse pela ciência foi mantido durante todos<br />

esses anos escolares pela leitura de livros e revistas sobre a realidade e a<br />

ficção científicas.<br />

A escola superior foi a realização de meus sonhos: encontrei<br />

professores que não só compreendiam a ciência, mas eram realmente capazes<br />

de explicá-la. Tive a sorte de freqüentar uma das grandes instituições de<br />

ensino da época, a Universidade de Chicago. Estudava física num<br />

departamento que girava <strong>em</strong> torno de Enrico Fermi; descobri a verdadeira<br />

elegância mat<strong>em</strong>ática com Subrahmanyan Chandrasekhar; tive a<br />

oportunidade de falar sobre química com Harold Urey; nos verões, fui<br />

estagiário de biologia de H. J. Muller, na Universidade de Indiana; e aprendi<br />

astronomia planetária com o único profissional que se dedicava <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po<br />

integral a esse estudo na época, G. P. Kuiper.<br />

Foi com Kuiper que adquiri pela primeira vez uma noção do<br />

método conhecido como cálculo do verso do envelope: se lhe ocorre uma<br />

explicação possível para determinado probl<strong>em</strong>a, você pega um envelope<br />

velho, apena para o seu conhecimento de física básica, rabisca algumas<br />

equações aproximadas sobre o envelope, substitui as variáveis por valores<br />

numéricos prováveis, e vê se a sua resposta roça a solução do probl<strong>em</strong>a. Se<br />

não, t<strong>em</strong> que procurar uma solução diferente. Esse método corta as tolices<br />

assim como uma faca passa pela manteiga.<br />

Na Universidade de Chicago, também tive a sorte de participar de<br />

um programa de educação geral planejado por Robert M. Hutchins, <strong>em</strong> que a<br />

ciência era apresentada como parte integrante da magnífica tapeçaria do<br />

conhecimento humano. Considerava-se impensável que alguém desejasse ser<br />

físico s<strong>em</strong> conhecer Platão, Aristóteles, Bach, Shakespeare, Gibbon,<br />

Malinowski e Freud - entre muitos outros. Numa aula de introdução à<br />

ciência, a visão de Ptolomeu de que o Sol gira ao redor da Terra era<br />

apresentada de forma tão convincente que alguns estudantes se flagravam

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