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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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horizontal de uma pedra atirada t<strong>em</strong> de alguma forma o efeito de levantá-la,<br />

de modo que ela leva mais t<strong>em</strong>po para voltar ao chão do que uma pedra que<br />

se deixa cair da mesma altura no mesmo momento. Enamorados da<br />

geometria simples, eles acreditavam que o círculo é “perfeito”; apesar do<br />

Hom<strong>em</strong> na Lua e das manchas solares (ocasionalmente visíveis a olho nu, ao<br />

crepúsculo), sustentavam que os céus também são “perfeitos”; portanto, as<br />

órbitas planetárias tinham de ser circulares.<br />

Libertar-se da superstição não basta para o crescimento da ciência.<br />

Deve-se também ter a idéia de investigar a Natureza, fazer experimentos.<br />

Houve alguns ex<strong>em</strong>plos brilhantes – a medição do diâmetro da Terra feita<br />

por Erastótenes, ou o experimento da clepsidra de Empédocles<br />

d<strong>em</strong>onstrando a natureza material do ar. Mas numa sociedade <strong>em</strong> que o<br />

trabalho manual é humilhado e tido como apropriado apenas para os<br />

escravos, como acontecia no <strong>mundo</strong> clássico greco-romano, o método<br />

experimental não prospera. A ciência requer que nos libert<strong>em</strong>os tanto da<br />

superstição crassa como da injustiça crassa. Muitas vezes, a superstição e a<br />

injustiça são impostas pelas mesmas autoridades eclesiásticas e seculares,<br />

operando de comum acordo. Não constitui surpresa que as revoluções<br />

políticas, o ceticismo <strong>em</strong> relação à religião e o nascimento da ciência and<strong>em</strong><br />

juntos. Libertar-se da superstição é uma condição necessária, mas não<br />

suficiente, para a ciência.<br />

Ao mesmo t<strong>em</strong>po, é inegável que figuras centrais na transição da<br />

superstição medieval para a ciência moderna foram profundamente<br />

influenciadas pela idéia de um Deus supr<strong>em</strong>o que criou o Universo e<br />

estabeleceu não só os mandamentos que dev<strong>em</strong> reger a vida dos homens,<br />

mas também as leis a que a própria Natureza deve se sujeitar. O astrônomo<br />

al<strong>em</strong>ão do século XVII Johannes Kepler, s<strong>em</strong> o qual a física newtoniana talvez<br />

não existisse, descreveu a sua busca da ciência como um desejo de conhecer a<br />

mente de Deus. Em nossa própria época, cientistas influentes, inclusive<br />

Albert Einstein e Stephen Hawking, descreveram a sua busca <strong>em</strong> termos<br />

quase idênticos. O filósofo Alfred North Whitehead e o historiador da<br />

tecnologia chinesa Joseph Needham têm igualmente sugerido que o el<strong>em</strong>ento<br />

que estava faltando no desenvolvimento da ciência nas culturas não<br />

ocidentais era o monoteísmo.<br />

Ainda assim, acho que há fortes evidências contra toda essa tese,<br />

clamando aos nossos ouvidos através dos milênios...<br />

O pequeno grupo de caça segue a pista dos cascos e o rasto de outros<br />

animais. Param por um momento perto de um grupo de árvores. Acocorados sobre os<br />

calcanhares, eles examinam a evidência com muito cuidado. A pista que estão

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