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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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Assim que foi eleito, na verdade na primeira s<strong>em</strong>ana de seu<br />

mandato <strong>em</strong> 1801, Jefferson começou a perdoar todas as vítimas da Lei da<br />

Sedição, porque, dizia, ela era totalmente contrária ao espírito das liberdades<br />

norte-americanas, como se o Congresso tivesse ordenado a todos nós que<br />

caíss<strong>em</strong>os de joelhos e adoráss<strong>em</strong>os um bezerro de ouro. Em 1802, já nada<br />

restava das leis dos Estrangeiros e da Sedição nos registros.<br />

Depois de dois séculos, é difícil recapturar a atmosfera delirante que<br />

fazia os franceses e os “selvagens irlandeses” parecer<strong>em</strong> uma ameaça tão<br />

grave que estaríamos dispostos a renunciar a nossas liberdades mais<br />

preciosas. Dar crédito aos triunfos culturais dos franceses e irlandeses,<br />

defender direitos iguais para eles eram na verdade atitudes depreciadas nos<br />

círculos conservadores como sentimentais – uma correção política irrealista.<br />

Mas é s<strong>em</strong>pre assim. S<strong>em</strong>pre parece uma aberração mais tarde. Mas então já<br />

estamos nas garras de outra histeria.<br />

Aqueles que procuram o poder a qualquer preço detectam uma<br />

fraqueza social, um medo que pod<strong>em</strong> usar para chegar ao cargo desejado.<br />

Pod<strong>em</strong> ser diferenças étnicas, como naquela época, talvez quantidades<br />

diferentes de melanina na pele; ou talvez seja o uso de drogas, o crime<br />

violento, a crise econômica, a educação religiosa ou a “profanação” da<br />

bandeira (literalmente, torná-la profana).<br />

Qualquer que seja o probl<strong>em</strong>a, o r<strong>em</strong>édio rápido é suprimir um<br />

pouco da liberdade da Declaração de Direitos. Sim, <strong>em</strong> 1942, os nipoamericanos<br />

estavam protegidos pela Declaração de Direitos, mas nós os<br />

prend<strong>em</strong>os de qualquer jeito – afinal, estávamos <strong>em</strong> guerra. Sim, há<br />

proibições constitucionais contra busca e prisão despropositadas, mas<br />

estamos <strong>em</strong> guerra com o tráfico de drogas, e os crimes violentos estão<br />

fugindo ao nosso controle. Sim, há a liberdade de expressão, mas não<br />

quer<strong>em</strong>os autores estrangeiros entre nós, falando de ideologias estranhas,<br />

não é mesmo? Os pretextos mudam de ano para ano, mas o resultado<br />

continua o mesmo: concentrar mais poder <strong>em</strong> menos mãos e suprimir a<br />

diversidade de opinião – mesmo que a experiência mostre claramente os<br />

perigos dessa linha de ação.<br />

Se não sab<strong>em</strong>os do que somos capazes, não pod<strong>em</strong>os avaliar as<br />

medidas tomadas par nos proteger de nós mesmos. Discuti a mania européia<br />

de perseguição às bruxas no contexto dos seqüestros por alienígenas; espero<br />

que o leitor me perdoe por voltar ao t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> seu contexto político. É uma<br />

porta para o autoconhecimento humano. Se verificarmos o que as<br />

autoridades religiosas e seculares na caça às bruxas dos séculos XV a XVII<br />

consideravam evidência aceitável e um julgamento justo, muitas das

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