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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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ouv<strong>em</strong> perguntas e comentários devastadores da platéia. É instrutivo<br />

examinar os procedimentos aos quais um relatório escrito é submetido para<br />

possível publicação numa revista científica, sendo depois enviado pelo editor<br />

a juízes anônimos que têm como tarefa fazer as seguintes perguntas: O autor<br />

fez alguma besteira? Existe alguma coisa nesse trabalho que seja<br />

suficient<strong>em</strong>ente interessante para ser publicada? Quais são as deficiências<br />

desse artigo? Os resultados mais importantes foram descobertos por outra<br />

pessoa? A argumentação é adequada, ou o artigo deveria ser reavaliado<br />

depois que o autor realmente d<strong>em</strong>onstrar aquilo que nesse trabalho, por ora,<br />

é ainda apenas especulação? E tudo isso é anônimo; o autor não sabe qu<strong>em</strong> são<br />

os críticos. Essa é a expectativa comum na comunidade científica.<br />

Por que toleramos tudo isso? Gostamos de ser criticados? Não,<br />

nenhum cientista gosta disso. Todo cientista t<strong>em</strong> um sentimento de<br />

propriedade <strong>em</strong> relação a suas idéias e descobertas. Mesmo assim, ninguém<br />

responde aos críticos: “Esper<strong>em</strong> um pouco; essa idéia é realmente boa; gosto<br />

muito dela; não lhe fez mal algum; por favor, deix<strong>em</strong>-na <strong>em</strong> paz”. Em vez<br />

disso, a regra dura mas justa é que, se não funcionam, as idéias dev<strong>em</strong> ser<br />

descartadas. Não se dev<strong>em</strong> desperdiçar neurônios com o que não funciona.<br />

Eles dev<strong>em</strong> ser aplicados <strong>em</strong> novas idéias que expliqu<strong>em</strong> melhor os dados. O<br />

físico britânico Michael Faraday alertou contra a tentação poderosa<br />

de procurar as evidências e aparências que estão a favor de nossos desejos,<br />

e desconsiderar as que lhes faz<strong>em</strong> oposição [...]. Acolh<strong>em</strong>os com boa<br />

vontade o que concorda com nossas idéias, assim como resistimos com<br />

desgosto ao que se opõe a nós, enquanto todo preceito de bom senso exige<br />

exatamente o oposto.<br />

A crítica válida presta um favor ao cientista.<br />

Algumas pessoas consideram a ciência arrogante – especialmente<br />

quando pretende rebater opiniões arraigadas ou introduz conceitos bizarros<br />

que parec<strong>em</strong> contraditórios ao senso comum. Como um terr<strong>em</strong>oto que<br />

confunde a nossa confiança no próprio solo que estamos pisando, pode ser<br />

profundamente perturbador desafiar as nossas crenças habituais, fazer<br />

estr<strong>em</strong>ecer as doutrinas <strong>em</strong> que aprend<strong>em</strong>os a confiar. Ainda assim, sustento<br />

que a ciência é, <strong>em</strong> essência, humildade. Os cientistas não procuram impor as<br />

suas necessidades e desejos à Natureza; ao contrário, interrogam-na<br />

humild<strong>em</strong>ente e levam a sério o que descobr<strong>em</strong>. Sab<strong>em</strong>os que os cientistas<br />

reverenciados cometeram erros. Compreend<strong>em</strong>os a imperfeição humana.<br />

Insistimos na verificação independente e – na medida do possível –<br />

quantitativa dos princípios propostos. Com freqüência estimulamos,<br />

desafiamos, procuramos contradições ou pequenos erros residuais<br />

persistentes, propomos explicações alternativas, encorajamos a heresia.

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