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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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calamidade natural – por ex<strong>em</strong>plo, quando um bispo do oeste norteamericano<br />

reza para que Deus aja e acabe com uma seca devastadora. Por<br />

que é preciso rezar? Deus não sabia da seca? Não tinha consciência de que era<br />

uma ameaça aos paroquianos do bispo? O que fica subentendido sobre as<br />

limitações de uma divindade supostamente onipotente e onisciente? O bispo<br />

pediu que seus discípulos também rezass<strong>em</strong>. Deus fica mais inclinado a<br />

intervir quando muitos oram pedindo misericórdia ou justiça do que quando<br />

apenas alguns rezam? Ou considere-se o seguinte pedido, publicado <strong>em</strong> The<br />

Prayer and Action Weekly News: Iowa’s Weekly Christian Information Source <strong>em</strong><br />

1994:<br />

Você pode se juntar a mim nesta prece para que Deus destrua pelo fogo o<br />

planejamento familiar <strong>em</strong> Des Moines, de tal modo que ninguém possa<br />

confundir a ação com um incêndio humano, de tal modo que os<br />

investigadores imparciais terão de atribuir o fogo a causas miraculosas<br />

(inexplicáveis) e os cristãos terão de atribuir a catástrofe à Mão de Deus?<br />

Já discutimos a cura pela fé. Que dizer da longevidade pela oração?<br />

O estatístico vitoriano Francis Galton afirmava que – sendo iguais outras<br />

condições – os monarcas britânicos deviam ter vida muito longa, porque<br />

milhões de pessoas <strong>em</strong> todo o <strong>mundo</strong> entoavam diariamente o mantra<br />

sincero “Deus salve a rainha” (ou o rei). Entretanto, ele mostrava que, se<br />

havia alguma diferença, era que eles não viviam tanto quanto os outros<br />

m<strong>em</strong>bros da classe aristocrática rica e mimada. Dezenas de milhões de<br />

pessoas <strong>em</strong> conjunto desejavam publicamente (<strong>em</strong>bora não fosse exatamente<br />

uma prece) que Mao Zedong vivesse “por 10 mil anos”. Quase todo <strong>mundo</strong><br />

no antigo Egito pedia aos deuses que o faraó vivesse “para s<strong>em</strong>pre”. Essas<br />

preces coletivas falharam. O seu fracasso constitui dados.<br />

Dando declarações que são, ainda que só <strong>em</strong> princípio, testáveis, as<br />

religiões, <strong>em</strong>bora involuntariamente, entram na arena da ciência. Elas já não<br />

pod<strong>em</strong> fazer afirmativas inquestionáveis sobre a realidade – desde que não<br />

detenham o poder secular, n<strong>em</strong> possam coagir a crença. Isso, por sua vez,<br />

t<strong>em</strong> enfurecido alguns adeptos de certas religiões. De vez <strong>em</strong> quando eles<br />

ameaçam os céticos com os castigos mais terríveis que se possa imaginar.<br />

Considere-se a seguinte alternativa de alto risco proposta por Willam Blake<br />

<strong>em</strong> sua obra inofensivamente intitulada Auguries of innocence:<br />

He who shall teach the Child to Doubt<br />

The rotting Grave shall ne’er get out.<br />

He who respects the Infant’s Faith<br />

Triumphs ober Hell & Death<br />

[Qu<strong>em</strong> ensinar a Criança a Duvidar

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