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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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Nunca sairá da Cova fétida.<br />

Qu<strong>em</strong> respeita a Fé da Criança<br />

Triunfa sobre o Inferno & Morte]<br />

S<strong>em</strong> dúvida, muitas religiões – consagradas à reverência, ao t<strong>em</strong>or, à<br />

ética, ao ritual, à comunidade, à família, à caridade e à justiça política e<br />

econômica – não são de forma alguma questionadas, mas antes enaltecidas<br />

pelas descobertas da ciência. Não há necessariamente conflito entre a ciência<br />

e a religião. Em certo nível, elas partilham papéis s<strong>em</strong>elhantes e harmoniosos,<br />

e uma precisa da outra. O debate aberto e vigoroso, até mesmo a consagração<br />

da dúvida, é uma tradição cristã que r<strong>em</strong>onta a Areopagitica de John Milton<br />

(1644). Parte do cristianismo e do judaísmo oficiais adota, e até antecipou, ao<br />

menos uma parcela da humildade, autocrítica, debate racional e<br />

questionamento da sabedoria recebida que o melhor da ciência oferece. Mas<br />

outras seitas, às vezes chamadas conservadoras ou fundamentalistas – e hoje<br />

elas parec<strong>em</strong> estar <strong>em</strong> ascensão, enquanto as religiões oficiais se mantêm<br />

quase inaudíveis e invisíveis –, optaram por tomar posição a respeito de<br />

questões sujeitas à refutação, e por isso têm algo a t<strong>em</strong>er da ciência.<br />

As tradições religiosas são com freqüência tão ricas e variadas que<br />

oferec<strong>em</strong> uma ampla oportunidade de renovação e revisão, sobretudo, mais<br />

uma vez, quando seus livros sagrados pod<strong>em</strong> ser interpretados metafórica e<br />

alegoricamente. Existe uma posição intermediária de confissão dos erros do<br />

passado – como fez a Igreja católica romana <strong>em</strong> 1992 ao reconhecer que<br />

Galileu afinal tinha razão, que a Terra gira ao redor do Sol: um atraso de três<br />

séculos, mas ainda assim uma atitude corajosa e muito b<strong>em</strong>-vinda. O<br />

catolicismo romano moderno não t<strong>em</strong> nada contra o Big Bang, n<strong>em</strong> contra<br />

um Universo de mais ou menos 15 bilhões de anos, n<strong>em</strong> contra o fato de os<br />

primeiros seres vivos ter<strong>em</strong> surgido de moléculas pré-biológicas, n<strong>em</strong> contra<br />

os humanos ter<strong>em</strong> evoluído de ancestrais s<strong>em</strong>elhantes a macacos – <strong>em</strong>bora<br />

tenha opiniões especiais sobre o fato de “o hom<strong>em</strong> ser dotado de uma alma”.<br />

A maioria dos credos protestantes e judeus oficiais adota a mesma posição<br />

inflexível.<br />

Quando discuto teologia com líderes religiosos, pergunto<br />

freqüent<strong>em</strong>ente qual seria a sua reação se um dogma central de seu credo<br />

fosse refutado pela ciência. Quando fiz essa pergunta ao atual dalai-lama, o<br />

14.º, ele me deu s<strong>em</strong> hesitar uma resposta que nenhum líder religioso<br />

conservador ou fundamentalista daria: nesse caso, disse ele, o budismo<br />

tibetano teria de mudar.<br />

– Ainda que fosse um dogma realmente central – perguntei – como a<br />

reencarnação?<br />

– Ainda assim – ele respondeu. Entretanto – acrescentou com uma<br />

piscadela – vai ser difícil refutar a reencarnação.

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