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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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por alienígenas passam meses, às vezes anos, encorajando os seus pacientes a<br />

se l<strong>em</strong>brar dos abusos. Seus métodos são s<strong>em</strong>elhantes e os objetivos de certo<br />

modo iguais – recuperar l<strong>em</strong>branças dolorosas, freqüent<strong>em</strong>ente de muito<br />

t<strong>em</strong>po atrás. Nos dois casos, o terapeuta acredita que o paciente esteja<br />

sofrendo com o trauma resultante de um acontecimento tão terrível que t<strong>em</strong><br />

de ser reprimido. Acho extraordinário que os terapeutas de rapto por<br />

alienígenas encontr<strong>em</strong> tão poucos casos de abuso sexual e vice-versa.<br />

Por razões muito compreensíveis, aqueles que de fato sofreram<br />

abuso sexual na infância ou cometeram incesto são sensíveis a qualquer coisa<br />

que pareça minimizar ou negar a sua experiência. Estão com raiva, e têm todo<br />

o direito de estar. Nos Estados Unidos, pelo menos uma <strong>em</strong> dez mulheres foi<br />

estuprada, quase dois terços antes dos dezoito anos. (e essa é a categoria de<br />

estupro menos provável de ser notificada.) Uma quinta parte dessas meninas<br />

foi estuprada <strong>pelos</strong> pais. Foram traídas. Quero ser bastante claro sobre esse<br />

ponto: há muitos casos reais de ataques sexuais cometidos <strong>pelos</strong> pais ou por<br />

aqueles que des<strong>em</strong>penham o papel de pais. Evidências físicas convincentes –<br />

fotos, por ex<strong>em</strong>plo, diários, gonorréia ou clamídia na criança – têm vindo à<br />

luz <strong>em</strong> alguns casos. O abuso sexual de crianças t<strong>em</strong> sido apresentado como<br />

uma provável causa significativa de probl<strong>em</strong>as sociais. Segundo um dos<br />

levantamentos, 85% de todos os presidiários violentos sofreram abuso na<br />

infância. Dois terços de todas as mães adolescentes foram estupradas ou<br />

sofreram abuso sexual na infância ou na adolescência. As vítimas de estupro<br />

são dez vezes mais propensas a ter o vício da bebida ou das drogas do que as<br />

outras mulheres. O probl<strong>em</strong>a é real e grave. Entretanto, a maioria desses<br />

casos mágicos e incontestáveis de abuso sexual na infância são<br />

continuamente l<strong>em</strong>brados na idade adulta. Não há l<strong>em</strong>branças ocultas a<br />

ser<strong>em</strong> recuperadas.<br />

Embora sejam mais notificados hoje <strong>em</strong> dia do que no passado,<br />

parece realmente haver um aumento significativo nos casos de abuso infantil<br />

registrados a cada ano <strong>pelos</strong> hospitais e <strong>pelos</strong> agentes da lei, chegando nos<br />

Estados Unidos a dez vezes mais (1,7 milhão de casos) no período entre 1967<br />

e 1985. O álcool e as outras drogas, b<strong>em</strong> como os probl<strong>em</strong>as econômicos, são<br />

apontados como as “razões” para os adultos ser<strong>em</strong> atualmente mais<br />

propensos a abusar das crianças do que no passado. Talvez a crescente<br />

publicidade dada a casos cont<strong>em</strong>porâneos de abuso infantil estimule os<br />

adultos a l<strong>em</strong>brar e focalizar o abuso que sofreram no passado.<br />

Há um século, Sigmund Freud introduziu o conceito de repressão, o<br />

fato de esquecermos certos acontecimentos para evitar intensa dor psíquica,<br />

como um mecanismo de luta essencial para a saúde mental. Parecia se<br />

manifestar especialmente <strong>em</strong> pacientes com diagnóstico de histeria, cujos<br />

sintomas incluíam alucinações e paralisia. A princípio, Freud acreditava que

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