20.06.2013 Views

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

um tao, um mana que impulsionava as coisas vivas. “Animava” a vida. Era<br />

impossível compreender como simples átomos e moléculas podiam ser<br />

responsáveis pela complexidade e elegância, pela adaptação da forma à<br />

função de que era capaz um ser vivo. As religiões de todo o <strong>mundo</strong> eram<br />

invocadas: Deus ou os deuses insuflavam a vida, o estofo da alma, na matéria<br />

inanimada. O químico oitocentista Joseph Priestley tentou encontrar a “força<br />

vital”. Pesou um ca<strong>mundo</strong>ngo pouco antes e pouco depois de sua morte. O<br />

peso não se alterou. Todas essas tentativas têm falhado. Se existe o estofo da<br />

alma, ele evident<strong>em</strong>ente não pesa nada -–isto é, não é feito de matéria.<br />

Contudo, até materialistas biológicos nutriam reservas; ainda que<br />

não existiss<strong>em</strong> almas de plantas, animais, fungos e micróbios, talvez fosse<br />

necessário algum princípio de ciência não descoberto para compreender a<br />

vida. Por ex<strong>em</strong>plo, o fisiólogo britânico J. S. Haldane (pai de J. B. S. Haldane)<br />

perguntava <strong>em</strong> 1932:<br />

Que explicação inteligível a teoria mecanicista da vida pode dar sobre a<br />

[...] cura da doença e de ferimentos? Simplesmente nenhuma, exceto que<br />

esses fenômenos são tão complexos e estranhos que ainda não pod<strong>em</strong>os<br />

compreendê-los. Acontece exatamente o mesmo com os fenômenos<br />

intimamente relacionados da reprodução. Está além de nossa imaginação<br />

conceber um mecanismo delicado e complexo que, como um organismo<br />

vivo, seja capaz de se reproduzir com freqüência indefinida.<br />

Mas passaram-se somente algumas décadas, e o nosso conhecimento<br />

de imunologia e biologia molecular t<strong>em</strong> esclarecido enorm<strong>em</strong>ente esses<br />

mistérios outrora impenetráveis.<br />

Quando a estrutura molecular do DNA e a natureza do código<br />

genético foram elucidadas pela primeira vez, nos anos 50 e 60, l<strong>em</strong>bro-me<br />

muito b<strong>em</strong> de como os biólogos que estudavam os organismos inteiros<br />

acusavam de reducionismo os novos proponentes da biologia molecular.<br />

(“Eles jamais compreenderão n<strong>em</strong> sequer uma minhoca com o seu DNA.”)<br />

Reduzir tudo a uma “força vital” não é certamente menos reducionista. Mas<br />

hoje <strong>em</strong> dia é claro que toda a vida sobre a Terra, cada um dos seres vivos,<br />

t<strong>em</strong> as suas informações genéticas codificadas <strong>em</strong> seus ácidos nucleicos, e<br />

<strong>em</strong>prega fundamentalmente o mesmo dicionário de códigos para<br />

impl<strong>em</strong>entar as instruções hereditárias. Aprend<strong>em</strong>os a ler o código. O mesmo<br />

número de moléculas orgânicas é repetidamente usado na biologia para as<br />

mais variadas funções. Os genes significativamente responsáveis pela fibrose<br />

cística e pelo câncer de mama têm sido identificados. Os 1,8 milhão de elos na<br />

cadeia do DNA da bactéria Ha<strong>em</strong>ophilis influenzae, que compreend<strong>em</strong> seus<br />

1743 genes, foram postos <strong>em</strong> seqüência. A função específica da maioria<br />

desses genes é maravilhosamente pormenorizada – da manufatura e cultivo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!