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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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um símbolo religioso tentador, <strong>em</strong>pilhar pedras para que de longe pareçam<br />

um rosto gigantesco.<br />

A visão de que a maioria dessas formas é um padrão nos processos<br />

de formação de rochas e na simetria bilateral das plantas e dos animais, com<br />

um pouco de seleção natural – tudo processado, com viés humano, pelo filtro<br />

de nossa percepção –, é descrita por Mitchell como “materialismo” e uma<br />

“ilusão do século XIX”. “Condicionada pelas crenças racionalistas, a nossa<br />

visão de <strong>mundo</strong> é mais opaca e mais confinada do que a pretendida pela<br />

natureza.” Por que processos ele sondou as intenções da Natureza, isso não é<br />

revelado.<br />

Quanto às imagens que apresenta, Mitchell conclui que<br />

o seu mistério permanece essencialmente intato, uma constante fonte de<br />

deslumbramento, encanto e especulação. Só o que sab<strong>em</strong>os com certeza é<br />

que a Natureza as criou e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, nos deu os meios para<br />

percebê-las e a inteligência para apreciar seu interminável fascínio. Para<br />

nosso melhor proveito e prazer, elas deveriam ser vistas conforme a<br />

natureza desejou, com o olhar da inocência, s<strong>em</strong> as nuvens das teorias e<br />

dos preconceitos, com a visão múltipla, inata <strong>em</strong> todos nós, que enriquece<br />

e dignifica a vida humana, e não com a cultivada visão unilateral dos<br />

insípidos e dogmáticos.<br />

Talvez a afirmativa espúria mais famosa e prodigiosa diga respeito<br />

aos canais de Marte. Observados pela primeira vez <strong>em</strong> 1877, foram<br />

aparent<strong>em</strong>ente confirmados por uma série de astrônomos profissionais<br />

dedicados que os viram por meio de grandes telescópios <strong>em</strong> todo o <strong>mundo</strong>.<br />

Relatou-se a existência de uma rede de linhas retas simples e duplas<br />

entrecruzando-se pela superfície marciana, e com uma regularidade<br />

geométrica tão fantástica que só podiam ter orig<strong>em</strong> inteligente. Tiraram-se<br />

conclusões imaginativas sobre um planeta crestado e moribundo, povoado<br />

por uma civilização técnica mais antiga e mais sábia que se dedicava à<br />

conservação dos recursos hídricos. Centenas de canais foram mapeados e<br />

nomeados. Mas, estranhamente, eles evitavam aparecer nas fotografias.<br />

Sugeriu-se que o olho humano podia se l<strong>em</strong>brar dos breves instantes de<br />

transparência atmosférica perfeita, enquanto a lâmina fotográfica<br />

indiscriminadora igualava os poucos momentos claros aos muitos indistintos.<br />

Alguns astrônomos viam os canais. Muitos não conseguiam ver. Talvez<br />

certos observadores tivess<strong>em</strong> mais talento para ver canais. Ou talvez toda a<br />

história fosse algum tipo de engano perceptivo.<br />

Grande parte da idéia de Marte ser uma morada da vida, b<strong>em</strong> como<br />

a predominância dos “marcianos” na ficção popular, deriva dos canais. Eu<br />

próprio cresci mergulhado nessa literatura, e quando me vi des<strong>em</strong>penhando<br />

a função de experimentador na missão da Mariner 9 a Marte – a primeira

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