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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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esulta de nossa sensibilidade aperfeiçoada. Nas ciências históricas <strong>em</strong> que<br />

não se pode criar uma nova encenação, é possível examinar casos<br />

relacionados e começar a reconhecer os seus el<strong>em</strong>entos comuns. Não<br />

pod<strong>em</strong>os fazer as estrelas explodir<strong>em</strong> quando nos convém, n<strong>em</strong> pod<strong>em</strong>os<br />

reproduzir, por meio de muitas tentativas, a evolução de um mamífero a<br />

partir de seus antepassados. Mas pod<strong>em</strong>os simular parte da física das<br />

explosões de supernovas no laboratório, e pod<strong>em</strong>os comparar com um<br />

detalhamento espantoso as instruções genéticas de mamíferos e répteis.<br />

Às vezes também se afirma que a ciência é tão arbitrária ou<br />

irracional quanto todas as outras formas de conhecimento, ou que a própria<br />

razão é uma ilusão. O revolucionário norte-americano Ethan Allen – líder dos<br />

Rapazes da Montanha Verde, quando esses capturaram o Forte Ticonderoga<br />

– tinha algumas palavras a dizer sobre o assunto:<br />

Aqueles que invalidam a razão dev<strong>em</strong> seriamente considerar se estão<br />

argumentando contra a razão com ou s<strong>em</strong> razão. Se é com razão, eles<br />

estabelec<strong>em</strong> o princípio que se esforçam para derrubar; mas, se<br />

argumentam s<strong>em</strong> razão (o qu<strong>em</strong> para ser coerentes consigo mesmos,<br />

deveriam fazer), ficam fora do alcance da convicção racional e não<br />

merec<strong>em</strong> uma argumentação racional.<br />

O leitor pode julgar a profundidade desse argumento.<br />

Qu<strong>em</strong> test<strong>em</strong>unha o progresso da ciência <strong>em</strong> primeira mão observa<br />

um <strong>em</strong>preendimento intensamente pessoal. Há s<strong>em</strong>pre alguns – impelidos<br />

por simples admiração e grande integridade, pela frustração com as<br />

insuficiências do conhecimento existente, ou simplesmente chateados consigo<br />

mesmos pela sua suposta incapacidade de compreender o que todos os<br />

outros entend<strong>em</strong> – que passam a fazer as devastadoras perguntas-chaves.<br />

Algumas personalidades de santos se destacam <strong>em</strong> um mar revolto de inveja,<br />

ambição, calúnias, repressão das divergências e vaidades absurdas. Em<br />

algumas áreas, altamente produtivas, esse comportamento é quase a norma.<br />

Acho que todo esse turbilhão social e essas fraquezas humanas<br />

ajudam o <strong>em</strong>preendimento da ciência. Há uma estrutura estabelecida na qual<br />

qualquer cientista pode provar que o outro está errado, sabendo que tal<br />

informação será do conhecimento de todos os d<strong>em</strong>ais. Mesmo quando os<br />

nossos motivos são vis, não deixamos de tropeçar <strong>em</strong> algo novo.<br />

Harold C. Urey, o norte-americano lauerado com o Nobel de<br />

química, me confidenciou certa vez que, ao ficar mais velho (ele tinha então<br />

os seus setenta anos), percebia cada vez mais um esforço combinado para<br />

provar que ele estava errado. Descreveu a situação como a síndrome de “o

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