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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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1 milhão; é mais ou menos tão provável ser curado <strong>em</strong> Lourdes quanto<br />

ganhar na loteria, ou morrer no acidente de um avião de linha regular e<br />

selecionado ao acaso – inclusive o que se destina a Lourdes.<br />

A taxa de regressão espontânea de todos os cânceres, <strong>em</strong> conjunto, é<br />

estimada entre uma <strong>em</strong> 10 mil e uma <strong>em</strong> 100 mil. Se apenas 5% dos que vão a<br />

Lourdes ali estivess<strong>em</strong> para tratar de seus cânceres, deveria haver entre<br />

cinqüenta e quinhentas curas “miraculosas” só de câncer. Como apenas três<br />

das 65 curas autenticadas são de câncer, a taxa de regressão espontânea <strong>em</strong><br />

Lourdes parece ser inferior à que existiria se as vítimas tivess<strong>em</strong><br />

simplesmente ficado <strong>em</strong> casa. É claro que, se você é um dos 65 casos, vai ser<br />

muito difícil convencê-lo de que a viag<strong>em</strong> a Lourdes não foi a causa da<br />

regressão da doença... post hoc, ergo propter hoc. Algo s<strong>em</strong>elhante parece valer<br />

para os indivíduos que curam doenças.<br />

Depois de ouvir muitas histórias de seus pacientes sobre alegadas<br />

curas pela fé, um médico de Minnesota chamado William Nolen passou um<br />

ano e meio tentando rastrear os casos mais notáveis. Havia claras evidências<br />

médicas de que a doença existia antes da “cura”? Em caso positivo, a doença<br />

realmente desaparecera depois da cura, ou tínhamos que nos fiar apenas nas<br />

afirmações do paciente e daquele que o curou? Ele revelou muitos casos de<br />

fraude, tendo inclusive desmascarado pela primeira vez na América do Norte<br />

uma “cirurgia mediúnica”. Mas não encontrou nenhum caso de cura de uma<br />

doença orgânica séria (não psicogênica). Não havia nenhum caso de cura de<br />

pedras na vesícula ou de artrite reumatóide, por ex<strong>em</strong>plo, muito menos de<br />

câncer ou doença cardiovascular. Quando o baço de uma criança é partido,<br />

observou Nolen, basta fazer uma simples operação cirúrgica, e a criança se<br />

recupera totalmente. Mas se levar<strong>em</strong> a criança a alguém que cura pela fé, ela<br />

morre <strong>em</strong> um dia. A conclusão do dr. Nolen: “Quando os que curam [pela fé]<br />

tratam de doenças orgânicas graves, são responsáveis por incalculáveis<br />

angústias e infelicidade [...]. Os curandeiros transformam-se <strong>em</strong> assassinos”.<br />

Mesmo um livro recente que defende a eficácia da reza no<br />

tratamento de doenças (Larry Dossey, Healing words) se vê <strong>em</strong> dificuldades<br />

pelo fato de algumas ser<strong>em</strong> mais facilmente curadas ou amenizadas do que<br />

as outras. Se a reza funciona, por que Deus não consegue curar o câncer ou<br />

repor um m<strong>em</strong>bro amputado? Por que tanto sofrimento evitável, que Deus<br />

poderia impedir com facilidade? E, afinal, por que se t<strong>em</strong> que rezar a Deus?<br />

Ele não já sabe as curas que precisam ser realizadas? Dossey também começa<br />

com uma citação do médico Stanley Krippner (apresentado como “um dos<br />

investigadores mais autorizados dos vários métodos de cura não ortodoxos<br />

<strong>em</strong>pregados <strong>em</strong> todo o <strong>mundo</strong>”): “[O]s dados da pesquisa sobre curas à<br />

distância, baseadas <strong>em</strong> orações, são promissores, mas d<strong>em</strong>asiado esparsos<br />

para que se possa tirar uma conclusão sólida”. Isso depois de trilhões de

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