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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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perigos da futura corrida armamentista com a União Soviética, que eles<br />

previram com acerto. Outros diziam que as questões políticas estavam fora<br />

de sua jurisdição. “Fui colocado na Terra para fazer certas descobertas”, dizia<br />

Enrico Fermi, “e o que os líderes políticos faz<strong>em</strong> com elas não é da minha<br />

conta.” Mesmo assim, Fermi ficou tão apavorado com os perigos da arma<br />

termonuclear defendida por Edward Teller que foi co-autor de um famoso<br />

documento que recomendava com insistência que os Estados Unidos não a<br />

construíss<strong>em</strong>, chamando-a de “maligna”.<br />

Jer<strong>em</strong>y Stone, o presidente da Federação de Cientistas Americanos,<br />

descreveu Teller – cujos esforços para justificar as armas termonucleares<br />

narrei num capítulo anterior – com as seguintes palavras:<br />

Edward Teller [...] insistia, a princípio por razões intelectuais pessoais e<br />

mais tarde por razões geopolíticas, que uma bomba de hidrogênio fosse<br />

construída. Usando a tática de exagerar e até difamar, ele manipulou com<br />

sucesso o processo de estabelecimento de políticas durante cinco décadas,<br />

denunciando todo tipo de medidas para controlar o armamento e<br />

promovendo diversos tipos de programas para a escalada da corrida<br />

armamentista.<br />

Ao ficar sabendo do projeto da bomba H, a União Soviética construiu a<br />

sua bomba H. Como conseqüência direta da personalidade incomum<br />

desse indivíduo específico e do poder da bomba H, o <strong>mundo</strong> pode ter<br />

corrido o risco de um nível de aniquilação que do contrário não teria<br />

acontecido, ou talvez só tivesse surgido mais tarde, sob melhores controles<br />

políticos.<br />

Se assim é, nenhum cientista teve mais influência sobre os riscos que a<br />

humanidade correu do que Edward Teller, e o comportamento geral dele<br />

durante toda a corrida armamentista foi repreensível [...].<br />

Por sua fixação na bomba H, Edward Teller pode ter sido aquele que, mais<br />

do que qualquer outro indivíduo da nossa espécie, contribuiu para pôr <strong>em</strong><br />

perigo a vida neste planeta [...].<br />

Comparado com Teller, os líderes da ciência atômica ocidental foram<br />

freqüent<strong>em</strong>ente bebês no campo político – pois as suas lideranças eram<br />

determinadas mais pelas suas habilidades profissionais do que, como<br />

nesse caso, pelas suas habilidades políticas.<br />

O meu objetivo neste livro não é repreender um cientista por<br />

sucumbir a paixões muito humanas, mas reiterar o novo imperativo: os<br />

poderes s<strong>em</strong> precedentes que a ciência agora torna possíveis dev<strong>em</strong> ser<br />

acompanhados por níveis s<strong>em</strong> precedentes de atenção e interesse éticos por<br />

parte da comunidade científica – b<strong>em</strong> como pela educação pública mais

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