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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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E=mc 2, e muito mais. A relatividade e as experiências que precederam a<br />

formação da teoria mostraram conclusivamente que não há nenhum éter<br />

sustentando a propagação das ondas eletromagnéticas, como Einstein escreve<br />

no trecho que reproduzi no capítulo 2. A onda viaja por si mesma. O campo<br />

elétrico variável gera um campo magnético; o campo magnético variável gera<br />

um campo elétrico. Eles se sustentam um ao outro – por seus próprios<br />

esforços.<br />

Muitos físicos ficaram profundamente perturbados com a morte do<br />

éter “luminífero”. Eles tinham sentido necessidade de um modelo mecânico<br />

para que toda a noção de propagação da luz no vácuo se tornasse razoável,<br />

plausível, compreensível. Mas isso é uma muleta, um sintoma de nossas<br />

dificuldades <strong>em</strong> reconhecer domínios <strong>em</strong> que o senso comum já não basta. O<br />

físico Richard Feynman descreveu a questão da seguinte maneira:<br />

Hoje compreend<strong>em</strong>os melhor que o que importa são as próprias equações,<br />

e não o modelo usado para formulá-las. Só pod<strong>em</strong>os questionar se as<br />

equações são verdadeiras ou falsas. Obt<strong>em</strong>os a resposta fazendo<br />

experiências, e inúmeros experimentos têm confirmado as equações de<br />

Maxwell. Se retiramos o andaime que ele usou para construí-lo,<br />

descobrimos que o belo edifício de Maxwell se sustenta por si próprio.<br />

Mas o que são esses campos magnéticos e elétricos variando no<br />

t<strong>em</strong>po que permeiam todo o espaço? O que Ε • e Β • significam? Nós nos<br />

sentimos muito mais confortáveis com a idéia de coisas que se tocam e<br />

sacod<strong>em</strong>, <strong>em</strong>purram e puxam, do que com uns “campos” que magicamente<br />

mov<strong>em</strong> objetos à distância ou com umas simples abstrações mat<strong>em</strong>áticas.<br />

Mas, como Feynman indicou, o nosso sentido de que pelo menos na vida<br />

cotidiana pod<strong>em</strong>os confiar no contato físico sólido e sensato – para explicar,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, por que a faca da manteiga v<strong>em</strong> até nós, quando a pegamos – é<br />

uma concepção equivocada. O que significa ter contato físico? O que acontece<br />

exatamente quando alguém pega uma faca, <strong>em</strong>purra um balanço ou provoca<br />

uma onda numa cama de água pressionando-a de vez <strong>em</strong> quando? Quando<br />

investigamos profundamente, descobrimos que não há contato físico. Em seu<br />

lugar, as cargas elétricas na mão influenciam as cargas elétricas na faca, no<br />

balanço ou na cama de água, e vice-versa. Apesar da experiência cotidiana e<br />

do senso comum, mesmo nesses casos há apenas a interação de campos<br />

elétricos. Nada toca <strong>em</strong> nada.<br />

Nenhum físico começou as suas investigações impaciente com as<br />

noções do senso comum, ansioso por substituí-las por uma abstração<br />

mat<strong>em</strong>ática que só podia ser compreendida pela física teórica rarefeita. Ao<br />

contrário, eles começaram, como todos nós, com noções confortáveis,<br />

padrões, cheias de bom senso. O probl<strong>em</strong>a é que a natureza não obedece. Se

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