20.06.2013 Views

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

caras e coroas: CA, CA, CA, CO, CA, CO, CA, CA, CA, CA. Oito caras <strong>em</strong><br />

dez, e quatro consecutivas! Estava exercendo algum controle psicocinético<br />

sobre a minha moeda? Estava numa fase de caras? Parece regular d<strong>em</strong>ais<br />

para ser obra do acaso.<br />

Mas então eu l<strong>em</strong>bro que estava jogando a moeda antes e depois de<br />

obter essa série de caras, e que ela se inseria numa seqüência muito maior e<br />

menos interessante: CA, CA, CO, CA, CO, CO, CA, CA, CA, CO, CA, CO,<br />

CA, CA, CA, CA, CO, CA, CO, CO, CA, CO, CA, CO, CO. Se me é permitido<br />

prestar atenção a alguns resultados e ignorar os outros, serei s<strong>em</strong>pre capaz de<br />

“provar” que há algo de excepcional na minha fase de sorte. Essa é uma das<br />

falácias no kit de detecção de mentiras, a enumeração de circunstâncias<br />

favoráveis. L<strong>em</strong>bramos os acertos e esquec<strong>em</strong>os os erros. Se a porcentag<strong>em</strong><br />

de cestas comuns de um jogador é 50%, e se ele não pode melhorar as suas<br />

estatísticas por um ato de vontade, t<strong>em</strong> tanta probabilidade de ter pé-quente<br />

no basquete quanto eu <strong>em</strong> jogar moedas. Com a mesma freqüência com que<br />

consigo oito caras <strong>em</strong> dez, ele vai fazer oito cestas <strong>em</strong> dez. O basquete pode<br />

ensinar alguma coisa sobre a probabilidade e a estatística, e também sobre o<br />

pensamento crítico.<br />

Uma investigação feita por meu colega Tom Gilovich, professor de<br />

psicologia <strong>em</strong> Cornell, mostra persuasivamente que nossa compreensão<br />

comum das fases de sorte do basquete é uma percepção errônea. Gilovich<br />

examinou se os arr<strong>em</strong>essos feitos <strong>pelos</strong> jogadores da NBA tend<strong>em</strong> a se<br />

agrupar mais do que seria esperado do acaso. Depois de fazer uma, duas ou<br />

três cestas, os jogadores não tinham mais probabilidade de marcar um ponto<br />

do que depois de uma cesta perdida. Isso valia para os grandes e para os<br />

quase grandes, e não só para cestas comuns, como para os arr<strong>em</strong>essos livres –<br />

quando não há mão alguma diante do jogador. (S<strong>em</strong> dúvida, uma diminuição<br />

da sorte nos arr<strong>em</strong>essos pode ser atribuída à maior atenção dada pela defesa<br />

ao jogador de “pé-quente”.) No beisebol, há o mito correlato, mas oposto, de<br />

que o jogador que está rebatendo abaixo da sua média “deve” marcar um<br />

ponto. Isso não é mais verdade do que afirmar que a probabilidade de tirar<br />

coroa depois de uma seqüência de caras é diferente de 50%. Se há fases de<br />

sorte além do que se esperaria estatisticamente, elas são difíceis de encontrar.<br />

Mas de algum modo isso não satisfaz. Não parece verdade.<br />

Pergunt<strong>em</strong> aos jogadores, aos treinadores ou aos fãs. Nós procuramos<br />

significado até <strong>em</strong> números aleatórios. Somos viciados <strong>em</strong> significados.<br />

Quando o famoso treinador Red Auerbach ouviu falar do estudo de Gilovich,<br />

a sua resposta foi: “Qu<strong>em</strong> é este sujeito? Quer dizer que ele fez um estudo.<br />

Pois não dou a menor bola para o estudo dele”. E sab<strong>em</strong>os exatamente como<br />

ele se sente. Mas, se as fases de sorte do basquete não acontec<strong>em</strong> com mais<br />

freqüência do que as seqüências de caras ou coroas, não há nada de mágico a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!