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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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ou Shaquille O’Neal espatifando a tabela é uma oportunidade para ensinar –<br />

entre outras coisas – a propagação de ondas de choque. O arr<strong>em</strong>esso<br />

rodopiante que bate no aro vindo de um ponto abaixo da tabela entra na cesta<br />

por causa da conservação do momento angular. É uma infração às regras<br />

tocar na bola dentro do “cilindro” acima da cesta; estamos agora falando de<br />

uma idéia mat<strong>em</strong>ática fundamental: gerar objetos n-dimensionais movendo<br />

objetos (n-1)-dimensionais.<br />

Na sala de aula, nos jornais e na televisão, por que não usamos os<br />

esportes para ensinar ciência?<br />

Na minha infância, meu pai trazia para casa um folheto diário e<br />

devorava (<strong>em</strong> geral com grande prazer) as súmulas dos jogos de beisebol. Lá<br />

estavam elas, para mim impenetráveis, com abreviações obscuras (W, SS, K,<br />

W-L, AB, RBI), mas faziam sentido para ele. Os jornais as imprimiam por<br />

toda parte. Imaginei que talvez não foss<strong>em</strong> assim tão difíceis. Por fim, eu<br />

também passei a compreender o <strong>mundo</strong> das estatísticas de beisebol. (Sei que<br />

me ajudou a aprender os números decimais, e ainda me arrepio um pouco<br />

quando escuto alguém dizer, <strong>em</strong> geral b<strong>em</strong> no início da t<strong>em</strong>porada de<br />

beisebol, que “a média de pontos de um batedor é mil”. Mas 1,000 não é 1000.<br />

A média de pontos do batedor de sorte é um.)<br />

Ou vejam as páginas financeiras. Algum material introdutório?<br />

Notas explicativas ao pé da página? Definições de abreviações? Nada. É<br />

afundar ou sair nadando. Todas essas léguas de estatísticas! Entretanto, as<br />

pessoas lê<strong>em</strong> voluntariamente as matérias. Não estão acima de suas<br />

capacidades. É apenas uma questão de motivação. Por que não pod<strong>em</strong>os<br />

fazer o mesmo com a mat<strong>em</strong>ática, a ciência e a tecnologia?<br />

Em todo esporte, os jogadores parec<strong>em</strong> ter o seu des<strong>em</strong>penho<br />

marcado por fases de sorte. No basquete, é o chamado pé-quente. Não se erra<br />

nunca. L<strong>em</strong>bro-me de um jogo de playoff (final de campeonato) <strong>em</strong> que<br />

Michael Jordan, que <strong>em</strong> geral não é um excelente arr<strong>em</strong>essador de longa<br />

distância, estava fazendo, s<strong>em</strong> a menor dificuldade, tantas cestas<br />

consecutivas de três pontos, a partir de todos os lugares da quadra, que<br />

encolhia os ombros, surpreso consigo mesmo. Por outro lado, há epocas <strong>em</strong><br />

que se é pé-frio, e nenhuma bola entra. Quando o jogador está na sua fase de<br />

sorte, ele parece estar se comunicando com algum poder misterioso, e<br />

quando está de pé-frio parece sofrer os efeitos de algum tipo de azar ou<br />

feitiço. Mas isso é pensamento mágico, e não científico.<br />

As fases de sorte, longe de ser<strong>em</strong> extraordinárias, são esperadas, até<br />

para eventos aleatórios. O que seria surpreendente é a ausência dessas fases.<br />

Se jogo uma moeda dez vezes seguidas, posso obter a seguinte seqüência de

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