20.06.2013 Views

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vidas no presente. Se existe a possibilidade de repressão e subseqüente<br />

recordação de l<strong>em</strong>branças horríveis, isso requer talvez duas condições: (1)<br />

que o abuso tenha realmente acontecido; (2) que a vítima tenha sido obrigada<br />

a fingir por longo t<strong>em</strong>po que ele jamais ocorreu.<br />

O psicólogo social Richard Ofshe, da Universidade da Califórnia,<br />

explica:<br />

Quando solicitados a explicar como as l<strong>em</strong>branças lhes voltaram à mente,<br />

os pacientes diz<strong>em</strong> reunir fragmentos de imagens, idéias, sentimentos e<br />

sensações, e com esse material formar histórias longinquamente coerentes.<br />

Quando esse assim chamado trabalho de recordação se estende por meses,<br />

os sentimentos se tornam imagens vagas, as imagens se tornam figuras, e<br />

as figuras se tornam pessoas conhecidas. Um desconforto vago <strong>em</strong> certas<br />

partes do corpo é reinterpretado como estupro na infância [...]. As<br />

sensações físicas originais, às vezes intensificadas pela hipnose, são então<br />

rotuladas como “l<strong>em</strong>branças corporais”. Não existe mecanismo concebível<br />

que torne os músculos do corpo capazes de armazenar m<strong>em</strong>órias. Se esses<br />

métodos não consegu<strong>em</strong> persuadir o paciente, o terapeuta pode lançar<br />

mão de práticas ainda mais opressivas. Alguns pacientes são convocados a<br />

participar de grupos de sobreviventes <strong>em</strong> que se <strong>em</strong>prega a pressão dos<br />

colegas, e <strong>em</strong> que se requer dos pacientes solidariedade politicamente<br />

correta, levando-os a se afirmar como m<strong>em</strong>bros de uma subcultura de<br />

sobreviventes.<br />

Uma declaração cautelosa da Associação Psiquiátrica Norte-<br />

Americana de 1993 aceita a possibilidade de que alguns de nós esquec<strong>em</strong> o<br />

abuso na infância como uma forma de lidar com o probl<strong>em</strong>a, mas alerta:<br />

Não se sabe distinguir com absoluta precisão, as l<strong>em</strong>branças baseadas <strong>em</strong><br />

acontecimentos verdadeiros daquelas derivadas de outras fontes [...]. Um<br />

interrogatório repetido pode levar os indivíduos a relatar “l<strong>em</strong>branças” de<br />

eventos que nunca ocorreram. Dentre os adultos que afirmam ter<br />

l<strong>em</strong>branças de abuso sexual, não se conhece a proporção dos que<br />

realmente sofreram abuso [...]. Se o psiquiatra t<strong>em</strong> uma forte convicção<br />

prévia de que abusos sexuais, ou outros fatores, são ou não a causa dos<br />

probl<strong>em</strong>as do paciente, isso provavelmente interfere no diagnóstico e no<br />

tratamento adequados.<br />

Por um lado, descartar insensivelmente as acusações de abusos<br />

sexuais horripilantes pode ser uma cruel injustiça. Por outro, mexer com as<br />

l<strong>em</strong>branças das pessoas, incutir histórias falsas de abuso infantil, destroçar<br />

famílias intatas e até mandar pais inocentes para a prisão também é uma<br />

cruel injustiça. O ceticismo é essencial <strong>em</strong> ambos os lados. Escolher o<br />

caminho entre esses dois extr<strong>em</strong>os pode ser muito difícil.<br />

As primeiras edições do influente livro de Ellen Bass e Laura Davis

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!