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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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Ao seduzir, os íncubos e súcubos eram sentidos como um peso<br />

sobre o peito do sonhador. Apesar de seu significado latino, mare é a palavra<br />

do inglês antigo para íncubo, e nightmare (pesadelo) significava originalmente<br />

o d<strong>em</strong>ônio que se senta sobre o peito dos adormecidos, atormentando-os com<br />

sonhos. Em A vida de santo Antônio, de Atanásio (escrita <strong>em</strong> torno de 360), os<br />

d<strong>em</strong>ônios são descritos movimentando-se à vontade <strong>em</strong> quartos trancados;<br />

1400 anos mais tarde, <strong>em</strong> sua obra De da<strong>em</strong>onialitae, o erudito franciscano<br />

Ludovico Sinistrari nos assegura que os d<strong>em</strong>ônios passam através das<br />

paredes.<br />

A existência exterior dos d<strong>em</strong>ônios transcorreu quase inteiramente<br />

s<strong>em</strong> questionamentos desde a Antigüidade até o final da Idade Média.<br />

Maimônides negava a sua realidade, mas a maioria esmagadora dos rabinos<br />

acreditava <strong>em</strong> dibuks. Um dos poucos casos que consegui encontrar, <strong>em</strong> que<br />

se chega a sugerir que os d<strong>em</strong>ônios poderiam ser internos, gerados <strong>em</strong> nossas<br />

mentes, é quando perguntam a Abba Po<strong>em</strong>en – um dos padres do deserto da<br />

Igreja primitiva:<br />

– Como é que os d<strong>em</strong>ônios lutam contra mim?<br />

– Os d<strong>em</strong>ônios lutam contra você? – perguntou o padre Po<strong>em</strong>en por<br />

sua vez. – Os nossos próprios desejos se tornam d<strong>em</strong>ônios, e são eles que nos<br />

atacam.<br />

As atitudes medievais para com os íncubos e súcubos foram<br />

influenciadas pelo livro de Macróbio do século IV, Comentário sobre o sonho de<br />

Cipião, que teve dezenas de edições antes do Iluminismo europeu. Macróbio<br />

descrevia fantasmas (phantasma) vistos “no intervalo entre o estado desperto e<br />

o cochilo”. O sonhador “imagina” os fantasmas como predatórios. Macróbio<br />

tinha um lado cético que seus leitores medievais tendiam a ignorar.<br />

A obsessão com os d<strong>em</strong>ônios começou a atingir um crescendo<br />

quando, <strong>em</strong> sua famosa bula de 1484, o papa Inocêncio VIII declarou:<br />

T<strong>em</strong> chegado a nossos ouvidos que m<strong>em</strong>bros de ambos os sexos não<br />

evitam manter relações com anjos, íncubos e súcubos malignos, e que por<br />

meio de suas feitiçarias, palavras mágicas, amuletos e conjuros eles<br />

sufocam, extingu<strong>em</strong> e abortam os filhos das mulheres,<br />

além de gerar muitas outras calamidades. Com essa bula, Inocêncio<br />

dava início à acusação, tortura e execução sist<strong>em</strong>áticas de inumeráveis<br />

“bruxas” <strong>em</strong> toda a Europa. Elas eram culpadas do que Agostinho descrevia<br />

como “o ato criminoso de bulir com o <strong>mundo</strong> invisível”. Apesar do imparcial<br />

atestada por tantas pessoas que acho desnecessário citar os seus test<strong>em</strong>unhos”. O teóloogo<br />

Meric Casaubon argumentava – <strong>em</strong> seu livro de 1668, Of credulity and incredulity – que as<br />

bruxas dev<strong>em</strong> existir porque, afinal de contas, todo <strong>mundo</strong> acredita nelas. Qualquer coisa<br />

<strong>em</strong> que um grande número de pessoas acredita deve ser verdade.

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