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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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uma presença constante <strong>em</strong> brincadeiras infantis, o exorcismo dos d<strong>em</strong>ônios<br />

ainda é praticado pela Igreja católica romana e outras religiões, e os adeptos<br />

de um culto ainda denunciam como feitiçaria as práticas rituais de outro.<br />

Ainda <strong>em</strong>pregamos a palavra “pand<strong>em</strong>ônio” (literalmente, todos os<br />

d<strong>em</strong>ônios). Ainda se diz que uma pessoa enlouquecida e violenta é<br />

d<strong>em</strong>oníaca. (Foi só no século XVIII que a doença mental deixou de ser <strong>em</strong><br />

geral atribuída a causas sobrenaturais; até a insônia tinha sido considerada<br />

um castigo infligido por d<strong>em</strong>ônios.) Mais da metade dos norte-americanos<br />

declaram aos pesquisadores de opinião que “acreditam” na existência do<br />

Diabo, e 10% tiveram contato com ele, experiência que Martinho Lutero<br />

afirmava ter regularmente. Num “manual de guerra espiritual” de 1992,<br />

intitulado Prepare for war, Rebecca Brown nos informa que o aborto e o sexo<br />

fora do casamento “resultarão quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> infestação d<strong>em</strong>oníaca”; que a<br />

meditação, a ioga e as artes marciais são construídas de modo a levar os<br />

cristãos ingênuos a cultuar os d<strong>em</strong>ônios; e que “ ‘o rock não aconteceu pura e<br />

simplesmente’, foi um plano arquitetado com muito cuidado por ninguém<br />

menos do que o próprio Satã”. Às vezes “as pessoas amadas ficam<br />

diabolicamente presas e cegas”. A d<strong>em</strong>onologia ainda é, hoje <strong>em</strong> dia, parte de<br />

muitos credos sérios.<br />

E o que é que os d<strong>em</strong>ônios faz<strong>em</strong>? No Malleus, Kramer e Sprenger<br />

revelam que “os diabos [...] procuram interferir no processo de cópula e<br />

concepção normal, obtendo sêmen humano e transferindo-o eles próprios”. A<br />

ins<strong>em</strong>inação artificial d<strong>em</strong>oníaca na Idade Média r<strong>em</strong>onta pelo menos a são<br />

Tomás de Aquino, que nos diz <strong>em</strong> Sobre a Trindade que “os d<strong>em</strong>ônios pod<strong>em</strong><br />

transferir o sêmen que coletaram e injetá-lo nos corpos dos outros”. Seu<br />

cont<strong>em</strong>porâneo, são Boaventura, entra <strong>em</strong> mais detalhes: os súcubos “se<br />

entregam aos machos e receb<strong>em</strong> o seu sêmen; com habilidade astuciosa, os<br />

d<strong>em</strong>ônios preservam a sua potência, e mais tarde, com a permissão de Deus,<br />

tornam-se íncubos e despejam o sêmen <strong>em</strong> repositórios f<strong>em</strong>ininos”. Ao<br />

crescer, os produtos dessas uniões ímpias mediadas <strong>pelos</strong> d<strong>em</strong>ônios são<br />

também visitados <strong>pelos</strong> d<strong>em</strong>ônios. Forja-se um laço sexual entre várias<br />

gerações e entre várias espécies. E l<strong>em</strong>bramos que essas criaturas são famosas<br />

por voar; na verdade, elas habitam o ar.<br />

Não há nave espacial nessas histórias. Mas a maioria dos el<strong>em</strong>entos<br />

centrais das histórias de rapto por alienígenas está presente, inclusive os seres<br />

não humanos sexualmente obsessivos que viv<strong>em</strong> no céu, passam através de<br />

paredes, comunicam-se por telepatia e realizam experiências reprodutoras<br />

com a espécie humana. A não ser que nós acredit<strong>em</strong>os que os d<strong>em</strong>ônios<br />

realmente exist<strong>em</strong>, como pod<strong>em</strong>os compreender um sist<strong>em</strong>a de crença tão<br />

estranho, adotado por todo o <strong>mundo</strong> ocidental (inclusive por aqueles<br />

considerados os mais sábios dentre nós), reforçado por experiências pessoais

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