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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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o dil<strong>em</strong>a com as seguintes palavras (extraídas de seu conto “Para ser tomado<br />

com um grão de sal”):<br />

S<strong>em</strong>pre notei uma predominante falta de corag<strong>em</strong>, até entre pessoas de<br />

inteligência e cultura superiores, quanto a comunicar as suas próprias<br />

experiências psicológicas, quando estas são de natureza estranha. Quase<br />

todos os homens t<strong>em</strong><strong>em</strong> que aquilo que poderiam relatar nesse sentido<br />

não encontraria equivalente ou resposta na vida interior do ouvinte,<br />

provocando suspeitas ou risos. Tendo visto alguma criatura extraordinária<br />

sob a forma de serpente marinha, o viajante sincero não teria medo de<br />

mencionar o que viu; mas o mesmo viajante, tendo experimentado algum<br />

pressentimento singular, algum impulso, alguma excentricidade de<br />

pensamento, alguma (assim chamada) visão, algum sonho ou qualquer<br />

outra impressão mental marcante, hesitaria bastante antes de confessá-la.<br />

A essa reticência atribuo grande parte da obscuridade <strong>em</strong> que esses<br />

assuntos se acham envolvidos.<br />

Em nossa época, muitas risadinhas e zombarias ainda descartam tais<br />

assuntos. Mas a reticência e a obscuridade são mais facilmente superadas –<br />

por ex<strong>em</strong>plo, num ambiente “de apoio” providenciado por um teurapeuta ou<br />

um hipnotizador. Infelizmente – e, para algumas pessoas, incrivelmente –, a<br />

distinção entre a imaginação e a m<strong>em</strong>ória é com freqüência pouco nítida.<br />

Algumas “vítimas de rapto” afirmam recordar a experiência s<strong>em</strong><br />

recorrer à hipnose; muitas não o consegu<strong>em</strong>. Mas a hipnose é um meio pouco<br />

confiável de refrescar a m<strong>em</strong>ória. Freqüent<strong>em</strong>ente desperta a imaginação, a<br />

fantasia e o espírito de brincadeira junto com as recordações verdadeiras, s<strong>em</strong><br />

que n<strong>em</strong> o paciente, n<strong>em</strong> o terapeuta sejam capazes de distinguir uma coisa<br />

de outra. Ela parece envolver, <strong>em</strong> sua essência, um estado de<br />

sugestionabilidade intensificada. Os tribunais proibiram o seu <strong>em</strong>prego como<br />

evidência ou até como ferramenta de investigação criminal. A Associação<br />

Médica Norte-Americana considera as l<strong>em</strong>branças que vêm à tona sob<br />

hipnose menos confiáveis que as recordadas s<strong>em</strong> esse recurso. Um livro<br />

didático padrão de medicina (Harold I. Kaplan, Comprehensive textbook of<br />

psychiatry, 1989) alerta para a “elevada probabilidade de que as opiniões do<br />

hipnotizador sejam comunicadas ao paciente e incorporadas no que este<br />

acredita ser l<strong>em</strong>branças, freqüent<strong>em</strong>ente com forte convicção”. Por isso, o fato<br />

de as pessoas às vezes relatar<strong>em</strong>, sob hipnose, histórias de rapto por<br />

alienígenas t<strong>em</strong> pouca importância. Além do mais, há o perigo de que os<br />

sujeitos – pelo menos <strong>em</strong> algumas questões – estejam tão ansiosos por<br />

agradar o hipnotizador que às vezes respond<strong>em</strong> a dicas sutis de que n<strong>em</strong> este<br />

t<strong>em</strong> consciência.<br />

Num estudo realizado por Alvin Lawson, da Universidade Estadual<br />

da Califórnia, Long Beach, oito indivíduos, pré-selecionados entre os não-

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