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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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meio de alucinógenos como o LSD, psilocibin, mescalina ou haxixe. (O<br />

delirium tr<strong>em</strong>ens, o t<strong>em</strong>ido DT induzido pelo álcool, é uma manifestação b<strong>em</strong><br />

conhecida da síndrome de abstinência do alcoolismo.) Exist<strong>em</strong> também<br />

moléculas, como as fenotiazinas (torazina, por ex<strong>em</strong>plo), que faz<strong>em</strong> as<br />

alucinações desaparecer. É muito provável que o corpo humano gere<br />

substâncias – talvez inclusive as pequenas proteínas do cérebro s<strong>em</strong>elhantes à<br />

morfina chamadas endorfinas – que causam alucinações e outras que as<br />

eliminam. Exporadores famosos (e não histéricos), como o almirante Richard<br />

Byrd, o capitão Joshua Slocum e sir Ernest Shackleton, experimentaram<br />

alucinações vívidas ao enfrentar situações de isolamento e solidão incomuns.<br />

Sejam quais for<strong>em</strong> seus antecedentes neurológicos e moleculares, as<br />

alucinações não parec<strong>em</strong> reais. São buscadas <strong>em</strong> muitas culturas e<br />

consideradas um sinal de iluminação espiritual. Entre os índios norteamericanos<br />

das planícies ocidentais, por ex<strong>em</strong>plo, ou entre muitas culturas<br />

indígenas siberianas, o futuro de um jov<strong>em</strong> era prenunciado pela natureza da<br />

alucinação que ele experimentava depois de uma b<strong>em</strong>-sucedida “busca da<br />

visão”; seu significado era discutido com grande seriedade entre os anciãos e<br />

os xamãs da tribo. Há inúmeros ex<strong>em</strong>plos, <strong>em</strong> todas as religiões, de<br />

patriarcas, profetas ou salvadores que se retiram para o deserto ou para a<br />

montanha e, assistidos pela fome e pela privação dos sentidos, encontram<br />

deuses ou d<strong>em</strong>ônios. Experiências religiosas induzidas por drogas<br />

psicodélicas foram a marca registrada da cultura dos jovens ocidentais dos<br />

anos 60. A experiência, independent<strong>em</strong>ente de como tenha sido provocada, é<br />

com freqüência descrita de forma respeitosa, com palavras como<br />

“transcendente”, “sobrenatural”, “sagrada” e “santa”.<br />

As alucinações são comuns. Se alguém t<strong>em</strong> uma alucinação, isso não<br />

significa que está louco. A literatura antropológica está repleta de<br />

etnopsiquiatria da alucinação, sonhos REM e transes de possessão, que<br />

apresentam muitos el<strong>em</strong>entos comuns nas diferentes culturas e ao longo de<br />

diversas eras. As alucinações são rotineiramente interpretadas como<br />

possessão por espíritos bons ou maus. O antropólogo de Yale Weston La<br />

Barre chega ao ponto de afirmar que “seria surpreendent<strong>em</strong>ente razoável<br />

propor que grande parte da cultura é alucinação”, e que “todo o propósito e<br />

função do ritual parece ser [...] o desejo de [um] grupo de alucinar a<br />

realidade”.<br />

Eis uma descrição das alucinações como probl<strong>em</strong>a de sinal-ruído,<br />

formulada por Louis J. West, ex-diretor médico da Clínica de<br />

Neuropsiquiatria da Universidade da Califórnia, Los Angeles. Foi extraída da<br />

15ª. edição da Enciclopédia Britânica:<br />

de experimentá-las.

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