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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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da traição haviam se tornado quase indistinguíveis. Muitos dos primeiros<br />

colonos vieram para os Estados Unidos fugindo da perseguição religiosa,<br />

<strong>em</strong>bora alguns deles ficass<strong>em</strong> bastante contentes <strong>em</strong> perseguir outras pessoas<br />

por causa de suas crenças. Os fundadores de nossa nação reconheceram que<br />

uma relação estreita entre o governo e qualquer uma das religiões<br />

conflitantes seria fatal para a liberdade – e prejudicial à religião. O juiz Black<br />

(na decisão da Supr<strong>em</strong>a Corte Engel versus Vitale, 1962) descreveu a cláusula<br />

da Igreja oficial na primeira <strong>em</strong>enda da seguinte maneira: “O seu objetivo<br />

primeiro e mais imediato se baseava na crença de que a união do governo e<br />

da religião tende a destruir o governo e a degradar a religião”. Além do mais,<br />

a separação dos poderes também funciona nesse ponto. Cada seita e culto,<br />

como observou certa vez Walter Savage Landor, é um controle moral<br />

exercido sobre os outros: “A competição é tão saudável na religião como no<br />

comércio”. Mas o preço é elevado; essa competição é um obstáculo a que<br />

grupos religiosos, agindo <strong>em</strong> harmonia, trat<strong>em</strong> do b<strong>em</strong> comum.<br />

Rossiter conclui:<br />

as doutrinas gêmeas da separação entre a Igreja e o estado e da liberdade<br />

de consciência individual são a essência da nossa d<strong>em</strong>ocracia, se não<br />

realmente a contribuição mais importante dos Estados Unidos para a<br />

libertação do hom<strong>em</strong> ocidental.<br />

Ora, não adianta ter esses direitos, se não os usamos – o direito à<br />

liberdade de expressão quando ninguém contradiz o governo, à liberdade da<br />

imprensa quando ninguém está disposto a fazer as perguntas difíceis, o<br />

direito de reunião quando não há protestos, o sufrágio universal quando<br />

menos da metade do eleitorado vota, a separação da Igreja e do Estado<br />

quando o muro entre eles não passa por uma manutenção regular. Pelo<br />

desuso, eles pod<strong>em</strong> se tornar nada mais que objetos votivos, palavreado<br />

patriótico. Direitos e liberdades: use-os ou perca-os.<br />

Devido à previsão dos idealizadores da Declaração de Direitos – e<br />

ainda mais a todos aqueles que, com risco pessoal considerável, insistiram <strong>em</strong><br />

exercer esses direitos –, é difícil agora prender a liberdade de expressão numa<br />

garrafa. Os comitês das bibliotecas escolares, o serviço de imigração, a polícia,<br />

o FBI – ou o político ambicioso à cata de votos – pod<strong>em</strong> tentar reprimi-la de<br />

t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos, porém mais cedo ou mais tarde a rolha explode. A<br />

Constituição é afinal a lei da nação, os funcionários públicos juraram<br />

preservá-la, e os ativistas e os tribunais de vez <strong>em</strong> quando imped<strong>em</strong> o fogo...<br />

Entretanto, devido a padrões educacionais mais baixos, competência<br />

intelectual <strong>em</strong> declínio, gosto diminuído pelo debate substantivo e sanções<br />

sociais contra o ceticismo, as nossas liberdades pod<strong>em</strong> sofrer um processo<br />

lento de erosão e os nossos direitos pod<strong>em</strong> ser subvertidos. Os fundadores

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