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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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espeito delas. Isso reduz os jogadores a simples marionetes, manipulados<br />

pelas leis da probabilidade? Absolutamente. As porcentagens de suas médias<br />

de arr<strong>em</strong>essos são um reflexo verdadeiro de suas habilidades individuais. A<br />

nossa conclusão é apenas sobre a freqüência e a duração das fases de sorte.<br />

S<strong>em</strong> dúvida, é muito mais divertido pensar que os deuses<br />

favoreceram o jogador que está com sorte e menosprezaram o pé-frio. E daí?<br />

Qual é o mal de um pouco de mistificação? É certamente muito mais<br />

interessantes do que as análises estatísticas aborrecidas. No basquete, nos<br />

esportes, não há mal algum. Mas, como modo habitual de pensar, ela nos cria<br />

probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> alguns dos outros jogos que gostamos de praticar.<br />

“Cientista, sim; louco, não”, diz rindo o cientista louco de Gilligan’s<br />

Island, enquanto ajusta o dispositivo eletrônico que lhe permite controlar as<br />

mentes dos outros para realizar seus objetivos nefandos.<br />

“Desculpe, dr. Nerdnik, as pessoas da Terra não vão gostar de se<br />

ver<strong>em</strong> encolhidas até sete centímetros de altura, mesmo que isso poupe espaço<br />

e energia...” O super-herói de desenho animado está explicando<br />

pacient<strong>em</strong>ente um dil<strong>em</strong>a ético ao cientista típico apresentado nos programas<br />

infantis de televisão nas manhãs de sábado.<br />

Muitos desses assim chamados cientistas – a julgar <strong>pelos</strong> programas<br />

que vi (e por inferência plausível a respeito dos que não vi, como Mad<br />

Scientist’s ‘Toon Club) – são aleijados morais, impulsionados pelo desejo do<br />

poder ou dotados de uma insensibilidade espetacular aos sentimentos dos<br />

outros. A mensag<strong>em</strong> transmitida para o público infantil é que a ciência é<br />

perigosa e os cientistas, piores que excêntricos: eles são loucos.<br />

As aplicações da ciência, é claro, pod<strong>em</strong> ser perigosas, e, como tentei<br />

enfatizar, virtualmente todo grande avanço tecnológico na história da espécie<br />

humana – desde a invenção das ferramentas de pedra e o domínio do fogo –<br />

t<strong>em</strong> sido eticamente ambíguo. Esses progressos pod<strong>em</strong> ser usados por<br />

pessoas ignorantes e más para fins perigosos, ou por pessoas sábias e boas<br />

para o b<strong>em</strong> da espécie humana. Mas apenas um lado da ambigüidade parece<br />

ser apresentado nesses programas para as nossas crianças.<br />

Em todos esses programas, onde estão as alegrias da ciência? O<br />

prazer de descobrir como o universo é formado? A satisfação de conhecer<br />

b<strong>em</strong> algo profundo? E que dizer das contribuições cruciais que a ciência e a<br />

tecnologia deram para o b<strong>em</strong>-estar humano – ou os bilhões de vidas salvas ou<br />

viabilizadas pela tecnologia médica e agrícola? (Para ser justo, no entanto,<br />

devo mencionar que o professor <strong>em</strong> Gilligan’s Island usa freqüent<strong>em</strong>ente o seu<br />

conhecimento de ciência para resolver probl<strong>em</strong>as práticos dos proscritos.)<br />

Viv<strong>em</strong>os numa era complexa, <strong>em</strong> que muitos dos probl<strong>em</strong>as que

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