20.06.2013 Views

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

13<br />

OBCECADO PELA REALIDADE<br />

Um proprietário de navios estava prestes a mandar para o<br />

mar um navio de <strong>em</strong>igrantes. Ele sabia que o navio estava<br />

velho, e n<strong>em</strong> fora muito b<strong>em</strong> construído; que vira muitos<br />

mares e climas, e com freqüência necessitara de reparos.<br />

Dúvidas de que possivelmente não estivesse <strong>em</strong> condições<br />

de navegar lhe haviam sido sugeridas. Essas dúvidas lhe<br />

oprimiam a mente e o deixavam infeliz. Ele chegou a pensar<br />

que o navio talvez tivesse de ser totalmente examinado e<br />

reequipado, ainda que isso lhe custasse grandes despesas.<br />

No entanto, antes que a <strong>em</strong>barcação partisse, conseguiu<br />

superar essas reflexões melancólicas. Disse para si mesmo<br />

que o navio passara por muitas viagens e resistira a muitas<br />

t<strong>em</strong>pestades <strong>em</strong> segurança, que era infundado supor que não<br />

voltaria a salvo também dessa viag<strong>em</strong>. Ele confiaria na<br />

Providência, que não podia deixar de proteger todas essas<br />

famílias infelizes que estavam abandonando a sua terra natal<br />

<strong>em</strong> busca de dias melhores <strong>em</strong> outro lugar. Tiraria de sua<br />

cabeça todas as suspeitas mesquinhas sobre a honestidade<br />

dos construtores e <strong>em</strong>preiteiros. Dessa forma, ele adquiriu<br />

uma convicção sincera e confortável de que o seu navio era<br />

totalmente seguro e capaz de resistir às int<strong>em</strong>péries; assistiu<br />

à sua partida de coração leve e cheio de votos bondosos para<br />

o sucesso dos exilados naquele que seria o seu estranho novo<br />

lar; e <strong>em</strong>bolsou o dinheiro do seguro, quando o navio<br />

afundou no meio do oceano, s<strong>em</strong> contar histórias a ninguém.<br />

O que dev<strong>em</strong>os dizer desse hom<strong>em</strong>? S<strong>em</strong> dúvida, o seguinte:<br />

que ele foi de fato culpado da morte desses homens. Admitese<br />

que ele acreditava sinceramente nas boas condições de seu<br />

navio; mas a sinceridade de sua convicção não o ajuda de<br />

modo algum, porque ele não tinha o direito de acreditar na<br />

evidência que estava diante de si. Não adquirira a sua opinião<br />

conquistando-a honestamente pela investigação paciente,<br />

mas reprimindo as suas dúvidas...<br />

William K. Clifford, The ethics of belief (1874)<br />

Nas fronteiras da ciência – e às vezes como um resto de pensamento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!