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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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era d<strong>em</strong>asiado difícil, requeria um tipo de inteligência que as mulheres não<br />

têm, elas são <strong>em</strong>otivas d<strong>em</strong>ais para ser objetivas, dá para imaginar grandes<br />

físicas teóricas?... e assim por diante. Desde então, as barreiras vêm<br />

desmoronando. Hoje as mulheres povoam a maioria das subdisciplinas da<br />

ciência. Em minhas próprias áreas de astronomia e estudos planetários, as<br />

mulheres têm recent<strong>em</strong>ente irrompido na cena, fazendo descoberta após<br />

descoberta e providenciando um sopro de ar fresco de que necessitávamos<br />

desesperadamente.<br />

Assim, que dados eles não estavam considerando – todos esses<br />

famosos cientistas masculinos das décadas de 50 e 60, e de anos ainda<br />

anteriores, que com tanta autoridade davam declarações sobre as deficiências<br />

intelectuais das mulheres? Obviamente, a sociedade impedia as mulheres de<br />

entrar na ciência, e depois as criticava por isso, confundindo causa e efeito:<br />

– Você quer ser astrônoma, minha jov<strong>em</strong>? Lamento.<br />

– Por que não pode? Porque você não dá para isso.<br />

– Como sab<strong>em</strong>os que você não dá para isso? Porque as mulheres<br />

nunca foram astrônomas.<br />

Dito de forma tão crua, o caso parece absurdo. Mas as artimanhas<br />

do viés pod<strong>em</strong> ser sutis. O grupo menosprezado é rejeitado por argumentos<br />

espúrios, apresentados às vezes com tanta confiança e contumácia que muitos<br />

de nós, inclusive algumas das próprias vítimas, deixamos de reconhecê-los<br />

como uma escamoteação que serve a interesses próprios.<br />

Observadores casuais de encontros de céticos, b<strong>em</strong> como os que dão<br />

uma olhada na lista dos sócios do CSICOP, têm notado uma grande<br />

preponderância de homens. Outros afirmam haver um número<br />

desproporcional de mulheres entre os que acreditam <strong>em</strong> astrologia<br />

(horóscopos aparec<strong>em</strong> na maioria das revistas “f<strong>em</strong>ininas”, mas <strong>em</strong> poucas<br />

revistas “masculinas”), <strong>em</strong> cristais, ESP e coisas do gênero. Alguns<br />

comentadores suger<strong>em</strong> que há algo de peculiarmente masculino no ceticismo.<br />

É impetuoso, competitivo, confrontador, obstinado – enquanto as mulheres,<br />

diz<strong>em</strong> eles, são mais complacentes, construtoras de consenso, e não têm<br />

interesse <strong>em</strong> questionar a sabedoria convencional. Mas, segundo minha<br />

experiência, as cientistas têm sensos céticos tão afiados quanto seus colegas<br />

masculinos; isso simplesmente faz parte de ser cientista. Essa crítica, se é que<br />

se pode chamá-la assim, é apresentada ao <strong>mundo</strong> sob o disfarce esfarrapado<br />

habitual; se dissuadirmos as mulheres de ser<strong>em</strong> céticas e não as treinamos no<br />

ceticismo, então com certeza vamos descobrir que muitas delas não o são.<br />

Abram as portas e deix<strong>em</strong> as mulheres entrar<strong>em</strong>, e elas se mostram tão<br />

céticas quanto qualquer outra pessoa.<br />

Uma das ocupações estereotipadas é a ciência. Os cientistas são<br />

nerds, socialmente inoportunos, trabalham com t<strong>em</strong>as incompreensíveis que

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