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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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desconhecido que restou do período cretáceo seja realmente encontrado no<br />

lago Ness ou na República do Congo; ou encontrar<strong>em</strong>os artefatos de uma<br />

espécie não humana avançada <strong>em</strong> outra parte do sist<strong>em</strong>a solar. No momento<br />

<strong>em</strong> que escrevo, acho que três alegações no campo da percepção extrasensorial<br />

(ESP) merec<strong>em</strong> estudo sério: (1) que os seres humanos consegu<strong>em</strong><br />

(mal) influir nos geradores de números aleatórios <strong>em</strong> computadores usando<br />

apenas o pensamento; (2) que as pessoas sob privação sensorial branda<br />

consegu<strong>em</strong> receber pensamentos ou imagens que foram nelas “projetados”; e<br />

(3) que as crianças pequenas às vezes relatam detalhes de uma vida anterior<br />

que se revelam precisos ao ser<strong>em</strong> verificados, e que não poderiam ser<br />

conhecidos exceto pela reencarnação. Não apresento essas afirmações por<br />

achar provável que sejam válidas (não acho), mas como ex<strong>em</strong>plos de<br />

afirmações que poderiam ser verdade. Elas têm, pelo menos, um fundamento<br />

experimental, <strong>em</strong>bora ainda dúbio. Claro, eu posso estar errado.<br />

Na metade dos anos 70, um astrônomo que admiro redigiu um<br />

manifesto modesto chamado “Objeções à astrologia”, e me pediu que o<br />

endossasse. Lutei com o seu fraseado, e por fim me vi incapaz de assinar –<br />

não porque achasse que a astrologia t<strong>em</strong> alguma validade, mas porque sentia<br />

(e ainda sinto) que o tom do discurso era autoritário. Ele criticava a astrologia<br />

por ter origens encobertas na superstição. Mas isso também é verdade para a<br />

religião, a química, a medicina e a astronomia, no mínimo. O probl<strong>em</strong>a não é<br />

saber de que conhecimento precário e rudimentar a astrologia se originou,<br />

mas qual é a sua validade presente. Depois havia uma especulação sobre os<br />

motivos psicológicos dos que acreditaram na astrologia. Esses motivos – por<br />

ex<strong>em</strong>plo, o sentimento de impotência num <strong>mundo</strong> complexo, penoso e<br />

imprevisível – poderiam explicar por que a astrologia não é geralmente<br />

submetida ao exame cético que merece, mas ficam à marg<strong>em</strong> da questão que<br />

é saber se ela funciona.<br />

A declaração enfatizava ser impensável um mecanismo pelo qual a<br />

astrologia pudesse funcionar. Esse ponto é decerto relevante, mas por si só<br />

não é convincente. Não se conhecia nenhum mecanismo para o deslocamento<br />

dos continentes (agora incluído no movimento das placas tectônicas), antes<br />

de ser proposto por Alfred Wegener no primeiro quarto deste século, para<br />

explicar uma série de dados enigmáticos na geologia e na paleontologia.<br />

(Veios com minérios de rochas e fósseis pareciam passar continuamente do<br />

leste da América do Sul para o oeste da África; os dois continentes eram<br />

outrora unidos, e o Oceano Atlântico seria novo <strong>em</strong> nosso planeta?) A noção<br />

foi totalmente rejeitada por todos os grandes geofísicos, que tinham certeza<br />

de que os continentes eram fixos e não flutuavam sobre coisa alguma, sendo<br />

por isso incapazes de “se deslocar”. Entretanto, a idéia-chave do século XX na<br />

geofísica veio a ser o movimento das placas tectônicas; agora

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