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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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sociedade. O que há de errado com um pouco de zombaria b<strong>em</strong>-humorada à<br />

custa dos cientistas? Se, por qualquer razão, as pessoas não gostam do<br />

cientista estereotipado, é menos provável que dê<strong>em</strong> apoio à ciência. Por que<br />

subsidiar pequenos projetos absurdos e incompreensíveis propostos por<br />

malucos? B<strong>em</strong>, sab<strong>em</strong>os a resposta para essa pergunta: a ciência recebe apoio<br />

financeiro porque gera benefícios espetaculares <strong>em</strong> todos os níveis da<br />

sociedade, como já afirmei neste livro. Por isso, aqueles que acham os nerds<br />

desagradáveis, mas ao mesmo t<strong>em</strong>po desejam os produtos da ciência,<br />

enfrentam uma espécie de dil<strong>em</strong>a. Uma solução tentadora é dirigir as<br />

atividades dos cientistas. É só não lhes dar dinheiro para saír<strong>em</strong> a pesquisar<br />

por caminhos estranhos; <strong>em</strong> vez disso, é preciso dizer-lhes do que precisamos<br />

– esta invenção ou aquele processo. Não é o caso de subsidiar a curiosidade<br />

dos nerds, mas aquilo que trará benefícios à sociedade. Parece bastante<br />

simples.<br />

O probl<strong>em</strong>a é que dar ordens a alguém para criar uma invenção<br />

específica, ainda que o preço não constitua obstáculo, não garante que ela seja<br />

realizada. Pode haver uma base de conhecimento ainda ignorada, s<strong>em</strong> a qual<br />

ninguém conseguirá construir o invento que se t<strong>em</strong> <strong>em</strong> mente. E a história da<br />

ciência mostra que tampouco se pode procurar esses conhecimentos básicos<br />

de modo dirigido. Eles pod<strong>em</strong> surgir das cogitações ociosas de um jov<strong>em</strong><br />

solitário <strong>em</strong> algum lugar isolado. São ignorados ou rejeitados mesmo por<br />

outros cientistas, às vezes até que surja uma nova geração destes. Exigir<br />

grandes invenções práticas e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, desencorajar a pesquisa<br />

movida pela curiosidade seria espetacularmente contraproducente.<br />

Vamos supor: você é, pela graça de Deus, Vitória, rainha do Reino<br />

Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, Defensora da Fé, na era mais próspera e<br />

triunfante do Império Britânico. Os seus domínios se estend<strong>em</strong> pelo planeta.<br />

O mapa-múndi está todo salpicado com o rosa britânico. Você governa a<br />

principal potência tecnológica do <strong>mundo</strong>. A máquina a vapor é aperfeiçoada<br />

na Grã-Bretanha, <strong>em</strong> grande parte por engenheiros escoceses – que fornec<strong>em</strong><br />

o conhecimento técnico necessário nas ferrovias e nos vapores que ligam todo<br />

o Império.<br />

Vamos supor que no ano de 1860 você t<strong>em</strong> uma idéia visionária, tão<br />

ousada que teria sido rejeitada pelo editor de Júlio Verne. Você quer uma<br />

máquina que transporte a sua voz, b<strong>em</strong> como imagens <strong>em</strong> movimento da<br />

glória do Império, para dentro de cada casa do reino. Além disso, os sons e as<br />

imagens não dev<strong>em</strong> passar por condutos ou fios, mas vir pelo ar – para que<br />

as pessoas no trabalho e no campo possam receber mensagens inspiradoras<br />

instantâneas, destinadas a assegurar a lealdade e a ética no trabalho. A

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