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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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Estaríamos certamente perdendo algo importante sobre a nossa<br />

natureza, se nos recusáss<strong>em</strong>os a enfrentar o fato de que as alucinações são<br />

uma característica humana. Entretanto, isso não as torna parte de uma<br />

realidade mais exterior que interior. De 5% a 10% dos seres humanos são<br />

extr<strong>em</strong>amente sugestionáveis, capazes de se mover <strong>em</strong> resposta a uma ord<strong>em</strong><br />

dada <strong>em</strong> profundo transe hipnótico. Aproximadamente 10% dos norteamericanos<br />

afirmam ter visto um ou mais fantasmas. Esse número é superior<br />

ao dos que alegam l<strong>em</strong>brar-se de ter<strong>em</strong> sido raptados por alienígenas, quase<br />

igual ao dos que disseram ter visto um ou mais UFOs, e inferior daqueles<br />

que, na última s<strong>em</strong>ana do mandato de Richard Nixon – antes de ele renunciar<br />

para evitar o impedimento –, achavam que o presidente estava tendo um<br />

des<strong>em</strong>penho bom/excelente. Pelo menos 1% de todos nós é esquizofrênico.<br />

Isso significa mais de 50 milhões de esquizofrênicos no planeta, mais do que,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, a população da Inglaterra.<br />

Em seu livro de 1970 sobre pesadelos, o psiquiatra John Mack –<br />

sobre qu<strong>em</strong> terei mais a dizer – escreve:<br />

Há um período na primeira infância <strong>em</strong> que os sonhos são considerados<br />

reais e <strong>em</strong> que a criança toma os acontecimentos, as transformações, as<br />

gratificações e as ameaças de que são compostos como se foss<strong>em</strong><br />

equivalentes às experiências diárias e fizess<strong>em</strong> igualmente parte da vida<br />

cotidiana real. A capacidade de estabelecer e manter distinções claras<br />

entre a vida dos sonhos e a vida no <strong>mundo</strong> exterior é conquistada com<br />

grande esforço e requer vários anos para ser alcançada, não estando<br />

completa n<strong>em</strong> mesmo <strong>em</strong> crianças normais antes dos oito a dez anos. Por<br />

sua nitidez e intensidade afetiva convincente, os pesadelos mostram-se<br />

mais difíceis de ser<strong>em</strong> julgados de forma realista pelas crianças.<br />

Quando a criança conta uma história fabulosa – a bruxa que faz<br />

caretas no quarto escuro; o tigre <strong>em</strong>boscado <strong>em</strong>baixo da cama; o vaso que foi<br />

quebrado por um pássaro multicolorido que voou pela janela, e não porque,<br />

<strong>em</strong> desobediência às regras familiares, alguém estava chutando bola dentro<br />

de casa –, está mentindo conscient<strong>em</strong>ente? É certo que os pais muitas vezes<br />

ag<strong>em</strong> como se ela não pudesse distinguir plenamente entre a fantasia e a<br />

realidade. Algumas crianças têm imaginações ativas; outras são menos<br />

dotadas nesse aspecto. Algumas famílias pod<strong>em</strong> respeitar a capacidade de<br />

fantasiar e estimular a criança, s<strong>em</strong> deixar de dizer ao mesmo t<strong>em</strong>po coisas<br />

como: “Oh, isso não é real; é apenas a sua imaginação”. Outras pod<strong>em</strong> não ter<br />

paciência com as histórias inventadas – torna-se mais difícil, pelo menos de<br />

certa forma, administrar a casa e resolver as disputas – e desestimulam a<br />

fantasia dos filhos, qu<strong>em</strong> sabe levando-os até a pensar que é algo vergonhoso.<br />

Alguns pais talvez não façam eles próprios uma distinção clara entre

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