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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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como se foss<strong>em</strong> ondas. Além disso, ele podia calcular a velocidade da onda.<br />

Bastava dividir 1 pela raiz quadrada de Σ0 vezes µ0. Mas Σ0 e µ0 tinham sido<br />

medidos no laboratório. Quando se inseriam os números, descobria-se que os<br />

campos elétrico e magnético no vácuo dev<strong>em</strong> se propagar, espantosamente,<br />

com a mesma velocidade que já fora medida para a luz. A concordância era<br />

d<strong>em</strong>asiado próxima para ser acidental. De repente, desconcertant<strong>em</strong>ente, a<br />

eletricidade e o magnetismo estavam implicados de forma profunda na<br />

natureza da luz.<br />

Como a luz agora parecia se comportar como ondas e derivar de<br />

campos elétricos e magnéticos, Maxwell chamou-a de eletromagnética.<br />

Aquelas experiências obscuras com baterias e fios tinham algo a ver com o<br />

brilho do Sol, com o nosso modo de ver, com a natureza da luz. Ruminando<br />

sobre a descoberta de Maxwell muitos anos mais tarde, Albert Einstein<br />

escreveu: “A poucos homens no <strong>mundo</strong> t<strong>em</strong> sido concedida uma experiência<br />

dessas”.<br />

O próprio Maxwell ficou desconcertado com os resultados. O vácuo<br />

parecia atuar como um dielétrico. Ele dizia que o vácuo podia ser<br />

“eletricamente polarizado”. Vivendo numa era mecânica, Maxwell sentiu-se<br />

obrigado a oferecer uma espécie de modelo mecânico para a propagação de<br />

uma onda eletromagnética através do vácuo perfeito. Assim, ele imaginou o<br />

espaço preenchido com uma substância misteriosa a que deu o nome de éter,<br />

que sustentava e continha os campos magnéticos e elétricos variando no<br />

t<strong>em</strong>po – algo s<strong>em</strong>elhante a uma gelatina vibrante mas invisível que permeava<br />

o Universo. O estr<strong>em</strong>ecimento do éter era a razão para a luz viajar através<br />

dele – assim como as ondas da água se propagavam através da água e as<br />

ondas de som através do ar.<br />

Mas tinha de ser uma substância muito estranha, este éter, muito<br />

fina, fantasmagórica, quase incorpórea. O Sol e a Lua, os planetas e as estrelas<br />

tinham de passar por ele s<strong>em</strong> ter seu curso retardado, s<strong>em</strong> perceber. No<br />

entanto, ele tinha de ser bastante rígido para sustentar todas essas ondas que<br />

se propagavam a uma velocidade prodigiosa.<br />

A palavra “éter” ainda é usada de forma vaga – <strong>em</strong> inglês, aparece<br />

principalmente no adjetivo “etéreo”, o que reside no éter. T<strong>em</strong> as mesmas<br />

conotações do termo mais moderno “viver no ar” ou “esquisito”. Quando,<br />

nos primeiros t<strong>em</strong>pos do rádio, eles diziam “No ar”, era o éter o que tinham<br />

<strong>em</strong> mente. (A expressão russa é b<strong>em</strong> literalmente “no éter”, v efir.) Mas é claro<br />

que o rádio viaja s<strong>em</strong> dificuldades pelo vácuo, um dos principais resultados<br />

de Maxwell. Não precisa do ar para se propagar. A presença do ar é antes um<br />

impedimento.<br />

Em mais uns quarenta anos, a idéia de que a luz e a matéria se<br />

mov<strong>em</strong> pelo éter devia levar à teoria especial da relatividade de Einstein,

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