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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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Universidade Americana, um grupo de cientistas notáveis – que incluía<br />

Harold Urey e Albert Einstein – advogou a idéia de apresentar a ciência pela<br />

ciência, e não apenas como meio de produzir aparelhos para vender;<br />

focalizando o modo de pensar, e não apenas os produtos. Eles estavam<br />

convencidos de que uma ampla compreensão popular da ciência era o<br />

antídoto para a superstição e a intolerância; de que, como disse o divulgador<br />

da ciência Watson Davis, “o caminho científico é o caminho d<strong>em</strong>ocrático”.<br />

Um dos cientistas até sugeriu que uma ampla valorização pública dos<br />

métodos da ciência poderia levar à “vitória final sobre a estupidez” – um<br />

objetivo digno, mas provavelmente irrealizável.<br />

Quando se realizou a feira, quase nenhuma ciência verdadeira foi<br />

anexada às exposições, apesar dos protestos dos cientistas e de seus a<strong>pelos</strong> a<br />

princípios elevados. Ainda assim, parte do pouco que foi acrescentado<br />

chegou até mim e ajudou a transformar a minha infância. Mas o foco<br />

<strong>em</strong>presarial e de consumo continuou central, não aparecendo essencialmente<br />

nada sobre a ciência como modo de pensar, muito menos como baluarte de<br />

uma sociedade livre.<br />

Exatamente meio século mais tarde, nos últimos anos da União<br />

Soviética, Ann Druyan e eu nos vimos num jantar <strong>em</strong> Peredelkino, uma vila<br />

perto de Moscou, onde funcionários do Partido Comunista, generais da<br />

reserva e alguns intelectuais privilegiados tinham suas casas de veraneio. O<br />

ar estava elétrico com a perspectiva de novas liberdades – especialmente o<br />

direito de falar o que se pensa, mesmo que o governo não goste do que se diz.<br />

A fabulosa revolução de novas expectativas desabrochava.<br />

Mas, apesar da glasnost, havia dúvidas muito difundidas. Os que<br />

estavam no poder permitiriam realmente que os seus próprios críticos foss<strong>em</strong><br />

ouvidos? A liberdade de expressão, reunião, imprensa, religião seria<br />

realmente permitida? As pessoas s<strong>em</strong> experiência de liberdade seriam<br />

capazes de suportar o seu ônus?<br />

Alguns dos cidadãos soviéticos presentes ao jantar tinham lutado –<br />

durante décadas e contra longas dificuldades – pelas liberdades que a<br />

maioria dos norte-americanos considera naturais; na verdade, eles tinham se<br />

inspirado na experiência norte-americana, a d<strong>em</strong>onstração <strong>em</strong> um <strong>mundo</strong><br />

real de que as nações, mesmo aquelas com múltiplas culturas e etnias, pod<strong>em</strong><br />

sobreviver e prosperar com essas liberdades razoavelmente intatas.<br />

Chegaram ao ponto de levantar a possibilidade de que a prosperidade se<br />

devia à liberdade – de que, numa era de alta tecnologia e mudanças rápidas,<br />

as duas cresc<strong>em</strong> ou declinam juntas, de que a postura aberta da ciência e da<br />

d<strong>em</strong>ocracia, a sua disposição a ser<strong>em</strong> julgadas pela experiência, eram modos

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