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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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[V]amos imaginar um hom<strong>em</strong> de pé, ao lado do vidro da janela fechada e<br />

<strong>em</strong> frente a sua lareira, olhando para o jardim ao crepúsculo. Está tão<br />

absorto na visão do <strong>mundo</strong> exterior que deixa de visualizar o interior da<br />

sala. Quando se torna mais escuro lá fora, no entanto, o reflexo indistinto<br />

das imagens dos objetos às suas costas pode ser visto no vidro da janela.<br />

Por algum t<strong>em</strong>po, ele consegue ver o jardim (se fixa os olhos ao longe) ou<br />

o reflexo do interior da sala (se focaliza o vidro a alguns centímetros de<br />

seu rosto). A noite cai, mas o fogo ainda arde brilhant<strong>em</strong>ente na lareira e<br />

ilumina a sala. O observador agora vê no vidro o reflexo nítido do interior<br />

da sala às suas costas, que parece estar no lado de fora da janela. Essa<br />

ilusão se torna mais vaga à medida que o fogo esmorece, e, finalmente,<br />

quando fica escuro tanto lá fora como dentro da sala, nada mais se vê. Se o<br />

fogo se aviva de t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos, as visões no vidro reaparec<strong>em</strong>.<br />

De forma análoga, as experiências alucinatórias, assim como as dos sonhos<br />

normais, ocorr<strong>em</strong> quando se reduz a “luz do dia” (dados sensoriais de<br />

entrada), ao passo que a “iluminação interior” (o nível geral da excitação<br />

mental) permanece “brilhante”, e as imagens que se originam dentro das<br />

“salas” de nossas mentes pod<strong>em</strong> ser percebidas (alucinadas) como se<br />

viess<strong>em</strong> de fora das “janelas” de nossos sentidos.<br />

Outra analogia poderia ser a de que os sonhos, como as estrelas, brilham o<br />

t<strong>em</strong>po todo. Embora as estrelas não sejam vistas com muita freqüência à<br />

luz do dia, pois o brilho do Sol é d<strong>em</strong>asiado intenso, se há um eclipse<br />

solar, ou se o espectador decide observar o firmamento um pouco depois<br />

do pôr-do-sol ou um pouco antes do amanhecer, ou se ele é acordado de<br />

t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos numa noite clara para fitar o céu, então as estrelas,<br />

como os sonhos, <strong>em</strong>bora freqüent<strong>em</strong>ente esquecidas, pod<strong>em</strong> ser s<strong>em</strong>pre<br />

vistas.<br />

Um conceito mais relacionado com a mente é o de uma atividade contínua<br />

de processamento de informações (uma espécie de “fluxo préconsciente”),<br />

influenciada ininterruptamente tanto pelas forças conscientes<br />

como pelas inconscientes, que constitui o suprimento potencial do<br />

conteúdo dos sonhos. O sonho é uma experiência durante a qual, por<br />

alguns minutos, o indivíduo t<strong>em</strong> alguma consciência do fluxo de dados<br />

sendo processado. As alucinações <strong>em</strong> estado desperto também<br />

implicariam os mesmos fenômenos, produzidos por um conjunto um<br />

pouco diferente de circunstâncias psicológicas ou fisiológicas [...].<br />

Todo comportamento e experiência humanos (normal e anormal) parec<strong>em</strong><br />

ser b<strong>em</strong> assistidos por fenômenos ilusórios e alucinatórios. Embora a<br />

relação desses fenômenos com a doença mental seja b<strong>em</strong> documentada, o<br />

seu papel na vida cotidiana não foi talvez suficient<strong>em</strong>ente considerado.<br />

Uma compreensão mais aprofundada das ilusões e alucinações das<br />

pessoas normais pode fornecer explicações para experiências que do<br />

contrário ficariam relegadas ao estranho, ao “extra-sensorial”, ou ao<br />

sobrenatural.

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