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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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contribuam para nos enganar sobre questões de grande importância. A<br />

primeira afirma que nas areias de Marte uma gigantesca face de pedra de eras<br />

passadas fita s<strong>em</strong> expressão o céu. A segunda sustenta que seres alienígenas<br />

de <strong>mundo</strong>s distantes visitam a terra com impunidade fortuita.<br />

Mesmo quando resumidas tão grosseiramente, não é <strong>em</strong>ocionante<br />

considerar essas proposições? E se essas antigas idéias de ficção científica –<br />

que certamente repercut<strong>em</strong> medos e desejos humanos profundos – realmente<br />

acontecess<strong>em</strong>? Qu<strong>em</strong> pode deixar de se interessar? Imerso nesse material, até<br />

o cínico mais crasso se perturba. T<strong>em</strong>os certeza absoluta, nenhuma sombra de<br />

dúvida, de que pod<strong>em</strong>os descartar essas proposições? E, se os <strong>em</strong>pedernidos<br />

desmascaradores de imposturas sent<strong>em</strong> esse apelo, o que não dev<strong>em</strong> sentir<br />

aqueles que desconhec<strong>em</strong> o ceticismo científico, como o sr. “Buckley”?<br />

Durante a maior parte da história – antes das naves espaciais, antes<br />

dos telescópios, quando ainda estávamos muito imbuídos do pensamento<br />

mágico –, a Lua foi um enigma. Quase ninguém pensava que ela fosse um<br />

<strong>mundo</strong>.<br />

O que realmente v<strong>em</strong>os quando vislumbramos a Lua a olho nu?<br />

Perceb<strong>em</strong>os uma configuração de marcas irregulares brilhantes e escuras –<br />

que não é uma representação aproximada de nenhum objeto familiar. Mas,<br />

quase irresistivelmente, os nossos olhos ligam as marcas, acentuando umas,<br />

ignorando outras. Procuramos um padrão e o encontramos. No folclore e nos<br />

mitos mundiais, muitas imagens são vistas na Lua: uma mulher tecendo, pés<br />

de loureiros, um elefante pulando de um penhasco, uma menina com um<br />

cesto nas costas, um coelho, as entranhas lunares derramadas pela superfície<br />

depois da evisceração praticada por um irritado pássaro incapaz de voar,<br />

uma mulher batendo um pano de padrão geométrico, um jaguar de quatro<br />

olhos. As pessoas de uma cultura têm dificuldade <strong>em</strong> compreender como<br />

essas coisas bizarras pod<strong>em</strong> ser vistas <strong>pelos</strong> m<strong>em</strong>bros de outra.<br />

A imag<strong>em</strong> mais comum é o Hom<strong>em</strong> na Lua. É claro que não se<br />

parece realmente com um hom<strong>em</strong>. As feições são tortas, distorcidas, abatidas.<br />

Há um bife ou algo parecido sobre o olho esquerdo. E que expressão a boca<br />

transmite? Um Oh de surpresa? Uma sugestão de tristeza, até de lamento? O<br />

reconhecimento pesaroso da labuta da vida sobre a Terra? Certamente o rosto<br />

é redondo d<strong>em</strong>ais. Faltam as orelhas. Acho que é careca no topo. Ainda<br />

assim, toda vez que olho para a Lua, vejo um rosto humano.<br />

O folclore mundial pinta a Lua como algo prosaico. As gerações pré-<br />

Apollo contavam às crianças que a Lua era feita de queijo-de-minas (isto é,<br />

fedorento), e por alguma razão essa caracterização não era considerada<br />

maravilhosa, mas hilária. Nos livros infantis e <strong>em</strong> caricaturas editoriais, o

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