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Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

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de pensar intimamente aliados.<br />

Houve muitos brindes, como s<strong>em</strong>pre acontece nos jantares nessa<br />

parte do <strong>mundo</strong>. O mais m<strong>em</strong>orável foi feito por um romancista soviético de<br />

renome mundial. Ele se levantou, ergueu o copo, nos olhou b<strong>em</strong> nos olhos e<br />

disse: “Aos norte-americanos. Eles têm um pouco de liberdade”. Fez uma<br />

pausa, e depois acrescentou: “E sab<strong>em</strong> como mantê-la”.<br />

Será verdade?<br />

A tinta ainda não secara na Declaração de Direitos, quando os<br />

políticos descobriram um meio de subvertê-la – aproveitando-se do medo e<br />

da histeria patriótica. Em 1798, o Partido Federalista, no poder, sabia que o<br />

ponto a pressionar era o preconceito étnico e cultural. Explorando as tensões<br />

entre a França e os Estados Unidos, e um medo b<strong>em</strong> difundido de que os<br />

imigrantes franceses e irlandeses foss<strong>em</strong> de certo modo intrinsecamente<br />

incapazes de ser norte-americanos, os federalistas aprovaram um conjunto de<br />

leis que vieram a ser conhecidas como as Leis dos Estrangeiros e da Sedição.<br />

Uma das leis aumentou o prazo de residência para requerer<br />

cidadania norte-americana de cinco para catorze anos. (Os cidadãos de<br />

orig<strong>em</strong> francesa e irlandesa <strong>em</strong> geral votavam com a oposição, o Partido<br />

Republicano-D<strong>em</strong>ocrático de Thomas Jefferson.) A Lei dos Estrangeiros dava<br />

ao presidente John Adams o poder de deportar qualquer estrangeiro que<br />

despertasse suspeitas. Deixar o presidente nervoso, disse um m<strong>em</strong>bro do<br />

Congresso, “é o novo crime”. Jefferson acreditava que a Lei dos Estrangeiros<br />

fora redigida especialmente para expulsar C. F. Volney, * historiador e filósofo<br />

francês; Pierre Samuel du Pont de N<strong>em</strong>ours, patriarca da famosa família de<br />

químicos; e o cientista britânico Joseph Priestley, que descobriu o oxigênio e<br />

foi um antepassado intelectual de James Clerk Maxwell. Na opinião de<br />

Jefferson, eles eram exatamente o tipo de pessoas de que os Estados Unidos<br />

necessitavam.<br />

A Lei da Sedição tornava ilegal publicar críticas “falsas ou<br />

maliciosas” ao governo ou inspirar oposições a qualquer um de seus atos.<br />

Foram feitas umas duas dúzias de prisões, dez pessoas foram condenadas e<br />

muitos mais censurados ou silenciados por intimidação. A lei tentava, dizia<br />

Jefferson, “esmagar toda e qualquer oposição política, criminalizando as<br />

críticas às autoridades ou às políticas federalistas”.<br />

(*) Uma passag<strong>em</strong> típica de Ruins, livro de Volney publicado <strong>em</strong> 1791: “Vocês<br />

disputam, brigam, lutam pelo que é incerto, pelo que desperta dúvidas. Oh homens! Isso<br />

não é loucura? [...] Dev<strong>em</strong>os traçar uma linha de distinção entre aqueles [t<strong>em</strong>as] que são<br />

capazes de verificação e aqueles que não o são, e separar por uma barreira inviolável o<br />

<strong>mundo</strong> dos seres fantásticos do <strong>mundo</strong> das realidades; isto é, todas as questões civis<br />

dev<strong>em</strong> ser afastadas das opiniões teológicas e religiosas”.

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