20.06.2013 Views

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios - Interessante

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de defesa? T<strong>em</strong> preconceito contra o grupo étnico do réu? A jurada <strong>em</strong><br />

potencial mora no bairro <strong>em</strong> que foram cometidos os crimes, e isso poderia<br />

influenciar o seu julgamento? T<strong>em</strong> conhecimentos científicos sobre questões<br />

que serão objeto de test<strong>em</strong>unhos de peritos? (Isso <strong>em</strong> geral conta um ponto<br />

contra ela.) Algum de seus parentes ou dos m<strong>em</strong>bros de sua família mais<br />

próxima trabalha <strong>em</strong> órgãos que faz<strong>em</strong> cumprir a lei ou <strong>em</strong> foros de direito<br />

penal? Ela própria já teve alguma briga com a polícia que poderia influenciar<br />

a sua decisão no julgamento? Algum parente seu ou amigo íntimo já foi preso<br />

por acusação s<strong>em</strong>elhante?<br />

O sist<strong>em</strong>a norte-americano de jurisprudência reconhece uma ampla<br />

gama de fatores, predisposições, preconceitos e experiências que pod<strong>em</strong><br />

enevoar o nosso julgamento ou afetar a nossa objetividade – às vezes s<strong>em</strong> que<br />

disso tenhamos conhecimento. Ele não mede esforços, alguns talvez até<br />

extravagantes, para proteger o processo do julgamento penal contra as<br />

fraquezas humanas daqueles que dev<strong>em</strong> decidir se o réu é inocente ou<br />

culpado. Mesmo com tudo isso, não há dúvida de que o processo às vezes<br />

falha.<br />

Por que deveríamos nos conformar com menos ao investigar o<br />

<strong>mundo</strong> natural, ou ao tentar decidir sobre questões vitais da política,<br />

economia, religião e ética?<br />

Se é para ser aplicada corretamente, a ciência impõe, <strong>em</strong> troca de<br />

suas múltiplas dádivas, certo encargo oneroso: por mais incômodo que possa<br />

ser, somos obrigados a considerar a nós mesmos e às nossas instituições<br />

culturais de forma científica – a não aceitar s<strong>em</strong> crítica qualquer coisa que nos<br />

diz<strong>em</strong>; a superar da melhor maneira possível as nossas esperanças, vaidades<br />

e crenças não analisadas; a nos ver como realmente somos. Pod<strong>em</strong>os<br />

conscienciosa e corajosamente seguir o movimento planetário ou a genética<br />

bacteriana por onde a pesquisa nos levar, mas declarar que a orig<strong>em</strong> da<br />

matéria ou do comportamento humano está fora do nosso alcance? Como o<br />

poder de explicação do raciocínio científico é muito grande, quando o<br />

compreend<strong>em</strong>os desejamos aplicá-lo <strong>em</strong> toda parte. Entretanto, ao olhar<br />

profundamente para dentro de nós mesmos, pod<strong>em</strong>os questionar as noções<br />

que fornec<strong>em</strong> certo alívio diante dos terrores do <strong>mundo</strong>. Sei que parte da<br />

discussão no capítulo anterior talvez tenha esse caráter.<br />

Quando faz<strong>em</strong> o levantamento das milhares de culturas e etnias<br />

diversas que compõ<strong>em</strong> a família humana, os antropólogos ficam impressionados<br />

com o pequeno número de características a que se chega, s<strong>em</strong>pre<br />

presentes, por mais exótica que seja a sociedade. Há, por ex<strong>em</strong>plo, culturas –<br />

os Ik de Uganda são uma delas – <strong>em</strong> que todos os Dez Mandamentos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!