19.08.2016 Views

BRASIL

002721822

002721822

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de circulação. Por outro lado, estamos perdendo a oportunidade de investir<br />

na ampliação do transporte sobre trilhos que, além do conforto e segurança,<br />

resultaria em redução da poluição urbana e da dependência de combustíveis<br />

fósseis. O que se nota é a reincidência do fracassado modelo rodoviarista,<br />

justificado pelo poder público como mais barato e por demandar menos<br />

tempo para implantação. A questão do tempo é, sobretudo, questão de eficiência<br />

no planejamento. Já a opção pelo modelo mais barato reflete um<br />

amesquinhamento, em contradição com o elevadíssimo gasto em estádios.<br />

Segundo Milton Santos, sendo um encontro de uma ordem temporal<br />

com uma ordem espacial, um evento é o veículo de uma ou de algumas<br />

possibilidades existentes no mundo, bem como vetor de possibilidades<br />

existentes numa determinada formação social. O conjunto de estudos aqui<br />

apresentado aponta claramente no sentido de estarmos diante de eventos<br />

que potencializam intenções de acumulação do capital em diferentes escalas,<br />

bem como de empoderamento de determinados atores nos cenários<br />

local e nacional. Ao mesmo tempo, tais eventos abriram novas possibilidades<br />

de ação política: no calor do enfrentamento, eles oportunizaram a articulação<br />

de novas redes e movimentos sociais, na busca pela (re)abertura de<br />

canais de diálogo com o poder constituído na cidade.<br />

Dentre outras contribuições, o livro demonstra claramente como<br />

grandes agentes públicos e privados se articularam no sentido de tentar<br />

fabricar um consenso em torno da realização da Copa do Mundo, como<br />

suposta fonte de benefícios em larga escala. Os elevados investimentos<br />

públicos seriam assim justificados pela produção de um legado de infraestrutura<br />

urbanística, num leque de que transita desde a modernização dos<br />

estádios às melhorias no sistema de transporte intraurbano. Para além destes<br />

aspectos de ordem material e funcional, o megaevento proporcionaria<br />

também uma maior visibilidade das cidades-sede, além de promover o “orgulho<br />

cívico” e maior senso de pertencimento, na forma de um “patriotismo<br />

de cidade”, conforme anunciam os teóricos defensores da “cidade competitiva”.<br />

Todavia, vozes dissonantes se ergueram para contestar este discurso e<br />

suas promessas, conforme salientam diversos capítulos, com destaque para<br />

o destinado a analisar a gestão urbana em Porto Alegre, o que avalia os impactos<br />

no direito à moradia, as duas contribuições de Eric Omena e as “arenas<br />

de conflito” de C. Gaffney.<br />

Desde a última década do século XX, o governo brasileiro já demonstrava<br />

um empenho cada vez mais claro no sentido de atrair e realizar grandes<br />

competições esportivas internacionais. Sem dúvida, organizar megaeventos<br />

esportivos tornou-se uma meta explícita de política pública e externa<br />

no Brasil, com profundo impacto sobre a gestão e qualidade de vida nas cidades.<br />

Por conseguinte, nos últimos 10 anos a temática dos megaeventos<br />

esportivos se afirmou cada vez mais entre pesquisadores acadêmicos. Mas<br />

10 Metropolização e Megaeventos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!