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BRASIL

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(1999) discorre sobre as transformações vividas pelas políticas urbanas no<br />

final do século XX, com foco nas ações que passam a valorizar a promoção<br />

das cidades, por intermédio dos instrumentos de city-marketing, de planos<br />

estratégicos, do urbanismo-espetáculo, do fortalecimento das lideranças<br />

locais.<br />

As principais críticas que se fazem ao planejamento estratégico neoliberal<br />

dizem respeito à participação social muito restrita, ao pensamento de<br />

curto prazo e à crescente fragmentação da ação do Estado sobre o território.<br />

A participação no planejamento estratégico centra-se na identificação dos<br />

atores-chave mais relevantes, na busca pela construção de falsos consensos<br />

e legitimações autoritárias, excluindo várias parcelas da população dos<br />

processos decisórios, conforme analisado por Souza (2006) e Vainer (2000).<br />

Com efeito, considera-se que a realização de megaeventos – incluindo aí a<br />

Copa do Mundo – insere-se no cerne desse novo modelo de gestão urbana<br />

empresarialista e neoliberal, baseado no acirramento da competição entre<br />

as cidades para atração de capitais estrangeiros e para melhor posicionamento<br />

global.<br />

Os dados e informações aqui reunidos e avaliados demonstram que<br />

em Belo Horizonte – e nas demais cidades-sede da Copa 2014 – o mesmo<br />

modelo se impõe: comprometimento de vultosos recursos públicos (sob a<br />

forma de investimentos diretos ou financiamentos) em projetos de duvidoso<br />

retorno social, concessão e/ou privatização de bens e serviços públicos<br />

ao capital privado, precarização das relações de trabalho, perseguição às<br />

condições de geração de emprego e renda dos trabalhadores informais, estímulo<br />

à especulação imobiliária associada aos negócios turísticos, e desrespeito<br />

às normas, legislações e ritos democráticos.<br />

Enfim, trata-se de um claro projeto de socialização dos custos com<br />

privatização dos ganhos. Os megaeventos são vistos como oportunidade de<br />

aprofundamento do modelo da cidade-mercadoria, em detrimento das reais<br />

necessidades da maior parte da população, e se viabilizam tanto pela<br />

sua ampla capacidade de arregimentar recursos quanto de estabelecer, por<br />

meio do imaginário social, seu poder legitimador. Como bem demonstra a<br />

literatura internacional, o legado da Copa do Mundo, sob o ponto de vista<br />

social e econômico, em geral é bastante decepcionante – quando não radicalmente<br />

regressivo –, a não ser para os atores hegemônicos diretamente<br />

envolvidos nesse grande negócio: FIFA, clubes de futebol, redes hoteleiras,<br />

patrocinadores oficiais etc.<br />

As críticas aos megaeventos no Brasil perpassam o fato de que eles<br />

não estão sendo acompanhados de um projeto que seja democraticamente<br />

decidido e discutido, para que se alcancem ganhos sociais e ambientais nas<br />

desiguais e insustentáveis metrópoles brasileiras. Em relação aos impactos<br />

que as intervenções relacionadas aos megaeventos causam em termos urba-<br />

240 Metropolização e Megaeventos

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