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BRASIL

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no início da segunda década do século XXI eram abertas inéditas janelas de<br />

oportunidade para a disseminação de descontentamentos compartilhados<br />

pela maioria da população dos grandes centros urbanos frente aos diversos<br />

desgastes gerados pela nova dinâmica urbana.<br />

É neste contexto que os projetos relacionados à Copa do Mundo e<br />

Olimpíadas são anunciados. No geral, as intervenções no campo da mobilidade<br />

urbana para as 12 cidades-sede se concentraram em pontuais aperfeiçoamentos<br />

do sistema viário e na utilização de corredores exclusivos<br />

para ônibus. Investimentos em outros modais de transporte se mostraram<br />

bastante limitados. O objetivo principal era o de fortalecimento das conexões<br />

entre aeroportos, redes hoteleiras e locais de competição, restringindo<br />

a maior parte das ações aos respectivos municípios-polo das metrópoles 9 .<br />

Não havia, portanto, indícios de que tais ações buscassem atender às demandas<br />

mais amplas dos movimentos pendulares intermunicipais e de<br />

priorização do transporte público de alta capacidade como o metroviário,<br />

menos poluente e alheio aos sobrecarregados sistemas viários.<br />

De maneira similar, as intervenções diretamente relacionadas à habitação<br />

fortaleciam as tendências de valorização imobiliária e realocação<br />

de parte da população de baixa renda nas áreas periféricas. As centenas de<br />

milhares de remoções de famílias pobres, muitas delas inclusive associadas<br />

a projetos de mobilidade urbana, foram combinadas com a utilização de<br />

empreendimentos do PMCMV localizados na extrema periferia das cidades<br />

como forma de compensação (ANCOP, 2012). A concentração dos novos<br />

equipamentos coletivos para os megaeventos nas áreas consolidadas e de<br />

expansão imobiliária das cidades-sede também reforçavam a dinâmica de<br />

gentrificação decorrente do aumento no preço de imóveis. Tais fatos tiveram<br />

repercussões no âmbito da sociedade civil organizada.<br />

Desde a transição para o regime democrático no fim da década de<br />

1980, a proliferação de uma série de iniciativas de ampliação da participação<br />

popular na condução de políticas públicas (Gohn, 2008) combinada<br />

com o desenvolvimento de práticas neoliberais de empreendedorismo urbano<br />

pelo país (HARVEY, 1996) suscitou a emergência de contradições entre<br />

estas duas tendências. O potencial conflito entre elas se efetiva plenamente<br />

na medida que a política de atração de megaeventos esportivos se consolida<br />

a partir do início do século XXI, forçando recuos na inserção de movimentos<br />

sociais nos canais institucionais participativos. A intensificação na violação<br />

de direitos humanos decorrente das intervenções voltadas à Copa do Mundo<br />

e às Olimpíadas combinada com a criação de novos arranjos institucionais<br />

da incipientes podem ser encontradas em http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/<br />

facebook-reduz-alcance-organico-das-paginas-11968134<br />

9 Detalhes da distribuição de investimentos por modais e localização podem ser acessados<br />

em http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/empreendimentos/tema.seam?tema=8<br />

Não Foi Só Por 20 Centavos: a “copa das manifestações” e as transformações socioeconômicas 211

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