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BRASIL

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Outro indício é a proliferação de planos diretores participativos e planos<br />

estratégicos, combinados no mesmo espaço-tempo como resultados de<br />

diferentes reações aos planos tecnocráticos desenvolvidos durante o período<br />

ditatorial. Neste sentido, a experiência do Rio de Janeiro é emblemática.<br />

Em 1992 foi aprovado o primeiro Plano Diretor da cidade que incorporava<br />

pioneiramente os fundamentos progressistas de política urbana instituídos<br />

pela Constituição Federal. Porém, o governo Cesar Maia, recém-instalado no<br />

poder, resolveu ignorá-lo, voltando suas atenções à formulação do primeiro<br />

Plano Estratégico Municipal, que em 1995 introduzia elementos neoliberais<br />

no planejamento urbano local. Um novo Plano Estratégico da cidade foi elaborado<br />

em 2001, mesmo ano em que o Estatuto das Cidades era aprovado<br />

e exigia a elaboração de um Plano Diretor Participativo. Este último só foi<br />

aprovado em 2011 pela Câmara Municipal após várias disputas, enquanto<br />

a prefeitura paralelamente construía novo plano estratégico no ano de 2009<br />

(seguido de revisão em 2012) cujo caráter empreendedorista era sintetizado<br />

pelo seu título “O Rio mais integrado e competitivo” 3 .<br />

Por último, a criação do Ministério das Cidades em 2003 e o início da<br />

realização das Conferências Nacionais das Cidades em 2004 vieram acompanhados<br />

do estabelecimento em definitivo do Ministério dos Esportes 4 ,<br />

que sistematizou e enfatizou a política de atração de megaeventos esportivos.<br />

Isto significou a expansão para a escala nacional de processos que vinham<br />

se consolidando localmente. A instituição do CNC com a participação<br />

de diversos movimentos sociais urbanos e a preparação de novas candidaturas<br />

à sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos através da realização do<br />

PAN 2007 coroa esta expansão, tornando mais próximos, por vias diferentes,<br />

a materialização dos respectivos objetivos perseguidos por parte da sociedade<br />

civil organizada e por setores capitalistas desde a redemocratização<br />

do país.<br />

Até o fim da primeira década do século XXI, as contradições inerentes<br />

a este processo histórico haviam sido expressas de forma relativamente<br />

marginal. Em alguns casos, a coexistência de princípios opostos dentro de<br />

uma mesma lógica institucional foi garantida pela atuação de agentes e instrumentos<br />

reguladores em nichos diferentes, conforme observado na implementação<br />

muitas vezes simultânea de Conselhos Gestores nas áreas de<br />

educação ou saúde e parcerias público-privadas combinadas com ações de<br />

marketing urbano nos setores de turismo e desenvolvimento urbano. Outros<br />

exemplos demonstram que esta coexistência também se viabilizou através<br />

3 Em São Paulo, as contradições se expressaram em um mesmo plano que buscava reunir as<br />

duas tendências em um único instrumento legal, o Plano Diretor Estratégico.<br />

4 Após a criação do Ministério Extraordinário dos Esportes, em 1995, a pasta passou a ser<br />

dividida com o setor de turismo em 1998. Somente em 2003 seria reestabelecido um ministério<br />

exclusivo para o setor.<br />

A “Copa das Manifestações” e os Processos de Governança Urbana no Brasil 139

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