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BRASIL

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internacional combinada com reformas na estrutura estatal, redirecionando<br />

as políticas públicas e sua relação com o setor privado.<br />

Estas transformações não deixaram imune o paradigma de planejamento<br />

urbano vigente. Até então, as cidades eram pensadas a partir de<br />

planos diretores holísticos, inspirados em concepções modernistas, que<br />

identificavam diferentes frações do espaço com funções fundamentais<br />

como habitação, transporte, trabalho e lazer. Planejadores exerciam o papel<br />

de tecnocratas responsáveis por determinar a utilização do território através<br />

de regulamentações detalhadas das atividades econômicas e sociais, valendo-se<br />

de conhecimento teórico que lhes garantia uma posição única para<br />

influenciar decisões sobre desenvolvimento urbano (CHOAYhoay, 1965).<br />

Durante a transição para a Nova República, este modelo foi identificado<br />

com o regime ditatorial e os ideais keynesianos de intervenção estatal,<br />

bastante contestados naquele momento. De um lado, movimentos sociais e<br />

intelectuais relacionados ao Movimento de Reforma Urbana, que desempenharam<br />

papel crucial na redemocratização e na Assembleia Constituinte de<br />

1988, questionavam seu caráter autoritário e clamavam pela refundação do<br />

planejamento urbano brasileiro, desta vez calcado em ideais de participação<br />

democrática e justiça social (GOHN, 2003). Por outro lado, desde o início<br />

dos anos 1980, organizações representativas do empresariado nacional davam<br />

indicações de apostar em um novo paradigma de relação com o Estado<br />

baseado na retração dos mecanismos de regulação do mercado (DINIZ,<br />

1992). O vácuo deixado pela condenação de diversos setores ao modelo modernista<br />

de planejamento urbano precisava ser preenchido por uma nova<br />

alternativa, cuja inspiração acabaria por vir de experiências do exterior.<br />

Desde o final dos anos 1960, o avanço do neoliberalismo nos países do<br />

norte já vinha apontando para novas formas de intervenção urbana. David<br />

Harvey (1996) cunhou o conceito de empreendedorismo urbano para identificar<br />

esta nova tendência, cujas principais características estão associadas<br />

à tentativas de inserção das cidades num mercado global através da espetacularização<br />

do espaço urbano, de parcerias público-privadas e de projetos<br />

pontuais de “revitalização” de áreas desvalorizadas. A alta mobilidade global<br />

do capital, cujos detentores passam a escolher onde farão seus investimentos<br />

de acordo com vantagens oferecidas por governos locais, coloca cidades<br />

e localidades numa posição de subordinação frente a grandes corporações.<br />

A cidade passa a ser entendida como uma empresa que precisa de técnicas<br />

empresariais para se autopromover como mercadoria (VAINER, 2000).<br />

Para tanto, conta especialmente com o chamado “city marketing”, que trabalha<br />

uma imagem higienizada e promove o consenso em torno de projetos<br />

de embelezamento urbano. A participação da população local passa a ser<br />

entendida como ação contemplativa, sem espaço para o dissenso e restrita<br />

à sensação de pertencimento a projetos espetaculares que simbolizam uma<br />

136 Metropolização e Megaeventos

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