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BRASIL

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guma rede de articulação, em 2004 elas chegariam a mais de 160 ONGs, ou<br />

mais de dois terços do total de afiliadas (ABONG, 2001 e 2004).<br />

O principal exemplo destas articulações no âmbito internacional é o<br />

Fórum Social Mundial. Já na esfera nacional, pode-se citar o Fórum de Entidades<br />

Nacionais de Direitos Humanos, a Articulação Nacional das Mulheres,<br />

o Movimento Nacional Quilombola, a Rede de Entidades Brasileiras de<br />

Economia Solidária, o Fórum Brasil do Orçamento, Fórum em Defesa dos<br />

Direitos Indígenas e o Fórum Nacional de Reforma Agrária.<br />

Assim, a primeira década do novo milênio apresenta o aperfeiçoamento<br />

do associativismo brasileiro através da inovação nas diversas formas<br />

de articulação entre ONGs e movimentos sociais. Entretanto, a constituição<br />

de novos espaços de negociação tendem a agudizar tensões referentes<br />

à relação entre Estado e sociedade civil. Por um lado, as redes e fóruns se<br />

legitimaram como palcos de mediação entre a sociedade civil organizada<br />

e governos, já que se espera deles a definição coletiva de exigências voltadas<br />

à elaboração e condução de políticas públicas. Isso é reforçado pelo fato<br />

de, em algumas oportunidades, representantes governamentais serem chamados<br />

para participar de seus debates. Contudo, os fóruns e redes buscam<br />

também reafirmar a autonomia de movimentos e ONGs frente ao governo<br />

e corporações. Assim, o balanço entre autonomia e inserção em negociações<br />

com o Estado apresenta-se como potencialmente delicado (SCHERER-<br />

-WARREN, 2006).<br />

A partir da segunda metade dos anos 2000, a crescente disseminação<br />

e consolidação de organizações, fóruns e redes encontrou limites estatais<br />

para aprimorar sua participação nas decisões fundamentais. Do ponto de<br />

vista qualitativo, em geral, tal participação tendia a se restringir a arranjos<br />

consultivos, com representação muitas vezes minoritária da população. Em<br />

outros casos o processo consultivo foi transformado em mera formalidade<br />

destinada a legitimar decisões já tomadas em outras instâncias. Adicione-se,<br />

ainda, a prática de cooptação de lideranças, criando uma cisão entre representantes<br />

e representados.<br />

A combinação destes fatores cria descrenças quanto à eficácia desta<br />

nova institucionalidade. Num primeiro plano, movimentos e ONGs que antes<br />

exigiam o aprofundamento da democracia no sentido de práticas mais<br />

participativas, começam a questionar a natureza destas experiências. As exigências<br />

são apuradas e elevadas a um novo patamar, sem encontrar uma<br />

resposta à altura por parte de governos, por conta dos comprometimentos<br />

diversos com a ordem neoliberal e o seu correspondente empreendedorismo<br />

urbano. Num segundo plano, há um questionamento quanto ao encaminhamento<br />

dado por líderes para estes problemas e suas relações cada vez<br />

mais estreitas com membros do corpo político estatal. Agrava tal quadro,<br />

particularmente, a presença de representantes históricos de sindicatos e<br />

A “Copa das Manifestações” e os Processos de Governança Urbana no Brasil 147

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