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BRASIL

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tempo. Nesse sentido, não é possível descartar que este processo de relocalização<br />

das classes populares prossiga em diversas cidades-sede por meio de<br />

dois mecanismos combinados: novas remoções de comunidades populares<br />

promovidas pelas prefeituras no contexto das intervenções urbanas planejadas;<br />

pelo intenso processo de valorização imobiliária de certas áreas e da<br />

criação das condições para a remoção indireta através do mercado.<br />

Ambos os mecanismos podem ser caracterizados como processos de<br />

acumulação por despossessão (HARVEY, 2004), no qual ocorre a transferência<br />

de ativos sob o controle das classes populares (sejam estes moradias, ou<br />

a apropriação do espaço público) para outros agentes econômicos, capazes<br />

de inserirem esses ativos nos circuitos de valorização do capital.<br />

No que se refere às remoções promovidas pelo poder público, apesar<br />

das diferenças observadas, pode-se dizer que vigorou um comportamento<br />

mais ou menos padrão por parte das prefeituras, envolvendo: (i) a precariedade<br />

ou ausência de informação por parte das comunidades atingidas,<br />

acompanhada de procedimentos de pressão e coação forçando os moradores<br />

a aceitar as ofertas realizadas pelo poder público local; (ii) a precariedade<br />

ou ausência de envolvimento das comunidades na discussão dos projetos<br />

de renovação urbana promovidos pelas prefeituras, incluindo a discussão<br />

de possíveis alternativas para os casos onde eram previstas remoções; (iii)<br />

o não reconhecimento das organizações comunitárias e a adoção de processos<br />

de negociação individualizados com as famílias, o que, em geral, tinha<br />

como efeito o enfraquecimento da sua capacidade de negociação com<br />

o poder público; (iv) a oferta de habitações de interesse social em áreas<br />

periféricas, destituídas de infraestrutura adequada tais como saneamento<br />

ambiental, mobilidade urbana, equipamentos de saúde e educação; e (v) o<br />

pagamento de indenizações que impossibilitaram a aquisição de uma nova<br />

moradia na mesma área de antiga residência, levando diversas famílias a<br />

comprar imóveis em áreas distantes.<br />

Sétima proposição.<br />

A Copa do Mundo e as Olimpíadas estão associados à<br />

promoção de novos canais decisórios sem participação<br />

social e a adoção de leis de exceção que expressam a<br />

subordinação do poder público aos agentes do mercado<br />

O modelo de governança vinculado à preparação da Copa do Mundo e das<br />

Olimpíadas parece estar associado à deslegitimação das instituições políticas<br />

existentes e dos canais e processos decisórios participativos existentes<br />

seja no âmbito nacional seja no âmbito local nas cidades-sede. Com efeito,<br />

nem os parlamentos (federal, estadual ou municipal), nem os conselhos das<br />

cidades existentes (no âmbito nacional ou local) participaram efetivamente<br />

Metropolização e Megaeventos 35

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