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BRASIL

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tão de serviços e equipamentos urbanos. No entanto, ambos os argumentos<br />

são questionáveis. Além disso, a subordinação da gestão de equipamentos<br />

e serviços urbanos considerados fundamentais para reprodução social nas<br />

cidades à lógica do mercado é inegavelmente geradora de desigualdades no<br />

acesso a tais serviços.<br />

Além disso, sob uma nova forma, a difusão destas parcerias abre a<br />

possibilidade da retomada das privatizações no Brasil, que marcaram a década<br />

de 1990, mas, por uma série de motivos, tiveram seu ciclo diminuído<br />

a partir de 2003 com a eleição do Governo Lula. Sem entrar no debate em<br />

torno da qualidade dos serviços, a questão que parece fundamental é a incapacidade<br />

do setor privado proporcionar a universalização do acesso aos<br />

serviços urbanos fundamentais para o exercício da cidadania, garantindo a<br />

equidade na qualidade dos mesmos.<br />

Mas existem diferenças importantes entre o modelo de concessão que<br />

caracteriza as privatizações de empresas e do setor de telecomunicações da<br />

década de 1990 e as parcerias público-privadas. Enquanto as primeiras implicam<br />

o repasse do suposto risco à empresas privadas, o modelo de parcerias<br />

público-privadas concede a administração de equipamentos e serviços<br />

por um determinado período, com a possibilidade de renovação do contrato,<br />

e implicam a participação do Estado por meio de alguma modalidade de<br />

transferência de recursos públicos. Na reforma e ampliação do aeroporto<br />

de Guarulhos a Infraero se responsabilizou por cerca de 26% do volume de<br />

recursos investidos, enquanto que na construção do VLT do Centro do Rio<br />

de Janeiro os gastos do poder público representam 44% do projeto.<br />

O aspecto mais importante deste modelo de gestão é a transferência<br />

das decisões de alocação de recursos para o mercado, transformando em<br />

mercadoria serviços que eram considerados públicos, ou seja, que deveriam<br />

estar ao alcance de todos. Na essência, a superação da separação entre<br />

as esferas público e privada proposta por este tipo de parceria representa<br />

uma relação direta, sem mediações, entre empresários e o poder público<br />

(VAINER, 2013). Então, os equipamentos e serviços gestados sobre a forma<br />

de parcerias público-privadas passam a funcionar sob a lógica empresarial,<br />

tendo o mercado como regulador social e o lucro como objetivo final, não o<br />

bem-estar dos cidadãos.<br />

As parcerias público-privadas são características de um modelo específico<br />

de governança urbana, marcada pelo empreendedorismo, que pode<br />

ser denominada de governança empreendedorista neoliberal. Nos termos<br />

da análise de Harvey (1996), com o aumento da volatilidade dos capitais,<br />

desde o final dos anos 1970, as cidades teriam passado a competir por investimentos<br />

externos e as parcerias com o setor privado passaram a se constituir<br />

em um mecanismo para alcançar tal objetivo, e que supostamente<br />

expressaria uma vantagem comparativa.<br />

74 Metropolização e Megaeventos

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